segunda-feira, 30 de março de 2009

Brizola: a nova vingança do Globo

O Globo comete um erro grosseiro de edição na reportagem em que mostra como o SNI espionou Leonel Brizola nos últimos anos da ditadura militar.

O erro pode ter sido involuntário ou deliberado. Se foi involuntário, terá de ser atribuído à alienação ou a ignorância de seus editores. Se foi deliberado, é um retrocesso na história do jornal.

A manchete do Globo de domingo:

"SNI: Brizola e Cesar recebiam propina de empresas de ônibus".

O subtítulo:

"Arapongas acompanharam governo dia a dia. Bicheiros também davam dinheiro".

Quem trabalhou com Brizola no primeiro governo dele no Rio e quem trabalhou no Globo durante parte deste e a totalidade do segundo mandato, levou um choque diante deste jornal de 29 de março de 2009. O blogueiro fez as duas coisas - trabalhou no governo Brizola e, depois, trabalhou no Globo, inclusive como subeditor e editor de política. Acrescente-se: orgulha-se das duas atividades.

Mas ontem parecia que saira de uma máquina do tempo e voltara ao Rio de 24 anos atrás, quando qualquer acusação a Brizola e ao governo do estado, de que fonte viesse, virava manchete do Globo.

Uma coisa é remexer nos arquivos da ditadura para revelar a maneira como aquele regime elegia e perseguia seus inimigos ou, mais genericamente, como lidava com os fatos e com a realidade do país. Isto é história.

Outra coisa é tomar acusações de quase três décadas atrás, produzidas por degenerados que se escondiam nos porões do regime militar, e tratá-las, agora, como denúncias dignas de crédito.

A manchete do Globo subverte uma reportagem sobre a história recente do país para transformá-la em peça de sua eterna campanha - agora pos mortem - contra Leonel Brizola.

Na época em que os relatórios foram escritos, nem o governo da ditadura os levou a sério. Ignorou-os e respeitou a legitimidade do governador eleito. O Globo, no entanto, parece dar crédito aos arapongas, 24 anos depois.

O Globo faz hoje, na sua manchete, o que a ditadura não ousou fazer.

As afirmações dos relatórios, sem nenhuma prova, revelam o pavor que Leonel Brizola provocava nos milicos. Com razão ou não, só ele parecia incomodar os porões do regime. O resto, para a linha dura, era cooptável.

7 comentários:

Stefano di Pastena disse...

As Org. Globo odeiam César Maia, fazem de tudo para desmoralizá-lo. O que será que o ex-prefeito negou a essa gente, hein?

Leo Lagden disse...

Marona,

Realmente fiquei estarrecido com essa matéria.
Como coloquei no meu blog (www.blogdoargonio.blogspot.com), o mais absurdo foi ler no final do quarto parágrafo a frase de que nada fora provado.
Realmente uma afronta ao bom jornalismo.

zé sergio disse...

Concordo.

Também falei nisso lá no meu blog quemevivo@blogspot.com.

mrmarona disse...

Eu li, Zé. Quando citar o blog aqui bota o WWW. Pra dar link. Assim: www.quemevivo.blogspot.com

Leonel Sica da Rocha disse...

Por indicação do Prévidi - www.previdi.com.br -, vim ler teu texto sobre as matérias do Globo de hoje e de ontem. Concordo em gênero, número e grau contigo. Apenas acrescento que, além de tudo, as matérias de hoje fazem o leitor mais ou menos inteligente ver Brizola como ele realmente foi: um grande líder. Para quem lê a matéria, no meu entender, o tiro do Globo saiu pela culatra.
Parabéns pelo teu texto.

João disse...

Brizola queria tomar de fato o poder - por meio das "reformas de base", usando a pressão intimidatória de sindicatos e outros grupos de pressão - "na lei ou marra", como lembra o historiador Jorge Ferreira, profundo pesquisador de sua biografia. Ele tinha o mesmo espírito democrático que o SNI: nenhum.

Anônimo disse...

O mais fantástico foi ler que Brizola foi eleito num pleito "suspeito de fraude". Verdade; só que a fraude era CONTRA Brizola, não a favor. E capitaneada pelo... SNI!!!

Arquivos desse tipo podem ser fontes de história. Mas, para isso, devem ser submetidos à crítica de autor, data e conteúdo. Obviamente, as "informações" transcritas nesses dossiês indicam, antes de mais nada, que o SNI não gostava de Brizola e o combatia. Daí a dar crédito ao que está naqueles relatórios vai uma distância enorme.

O que acho incrível é campanha contra uma pessoa que já morreu. É a primeira que vejo. E olha que testemunhei coisas do arco da velha no tempo em que trabalhei na Irineu Marinho...

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