quinta-feira, 18 de maio de 2017

VEM AO CASO, SIM, E MUITO


 O que diferencia a delação da JBS de tudo o que aconteceu até hoje na Lava a Jato é o fato de que, pela primeira vez, ostensivamente, o país toma conhecimento de que, nesta operação, a Polícia Federal agiu como polícia de verdade – investigando sigilosamente, seguindo suspeitos, filmando crimes em flagrante.
Finalmente, vê-se uma PF buscando provas contra os suspeitos, em vez de refestelar-se preguiçosamente diante de delatores que acusariam a mãe para escapar da prisão em que são mantidos como reféns até que resolvam abrir o bico, pouco importando se estarão mentindo ou não.
Finalmente, o Ministério Público acusa sem precisar apoiar-se apenas em delações desesperadas, carentes de qualquer comprovação ou verossimilhança, além de documentos rasurados e sem assinatura, e-mails que nunca foram enviados ou projeções toscas de power point.
Embora seja necessário provar, acima de qualquer dúvida razoável, que os acusados pela JBS cometeram os crimes de que são, ainda, apenas suspeitos, esta nova delação desmoraliza as acusações de ocasião da Odebrecht e da OAS. É possível que alguns dos acusados por essas duas empreiteiras sejam culpados, mas é inegável que, até agora, quase nada foi provado contra a maioria deles.
A nova delação rouba o protagonismo midiático e histriônico de Sérgio Moro, que, diante de uma inédita ação efetiva da polícia e do ministério público, fica identificado apenas pelo que ele mostrou ser até hoje: o juiz obcecado por um único réu. A delação da JBS retira de Moro o direito de usar para todos os investigados que não se chamem Lula o bordão “não vem ao caso”.
Vem ao caso, sim, e vem muito ao caso quando a polícia investiga e se esforça para reunir provas que amparem as acusações: subornos filmados, cédulas marcadas, chipes em malas e mochilas, agentes seguindo suspeitos. E crimes sendo cometidos há menos de dois meses, quando a Lava a Jato mirava numa única direção e a pilantragem ainda corria solta longe dos olhos daquela região agrícola do Sul do país.
Que a nova prática encerre e era das acusações verbais cuja comprovação é impossível por falta de investigação e evidências materiais objetivas.
Basta de power point.
Basta de documento sem assinatura.
Basta de emails secretos nunca enviados.
Basta de vazamentos planejados apenas para alimentar obsessões do judiciário e da imprensa.
A imprensa sentiu o golpe, tanto quanto alguns dos acusados. Não passa metáfora de uma corporação de editorialistas, colunistas e comentaristas de uma opinião só, mas pode-se dizer, em tom de brincadeira, que, diante de uma simples investigação de verdade, os mervais começam a abandonar o navio.

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