quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

O dilema do JN é ser popular

Uma troca de notas entre a Rede Globo e a TV Record, hoje à tarde, acaba por confirmar o que até ontem parecia apenas peça de propaganda da emissora do bispo: a novela "Prova de Amor" está mesmo causando danos enormes ao Jornal Nacional e, antes dele, à novela "Bang Bang"´.

A nota da Globo informa que, ao contrário do que diz a Record, sua audiência continua maior, mas revela que o Jornal Nacional, na sexta-feira passada, teve média de 26 pontos no Ibope medido em São Paulo.

O trilho (audiência exigida pela emissora) para o Jornal Nacional sempre esteve acima de 40 pontos. Menos do que isso, costuma motivar longas discussões internas. Imagino o que uma média de 26 estará causando nos nervos dos executivos do jornalismo e, por certo, na equipe do JN.

Eu não comemoro. Lamento, especialmente pelos amigos e bons colegas que deixei por lá. Trabalhar sob a pressão do Ibope é da natureza de qualquer televisão e, mais do que em qualquer outra, é uma cansativa e dolorosa rotina na TV Globo.

Já passei por isso, quando fui editor-chefe do JN. Na época, parte da audiência do telejornal era mordida por uma novela popular do SBT e pelo então bem sucedido programa do Ratinho na Record. A situação se tornava ainda mais difícil porque, também naquela época, a Globo penava com uma novela muito fraca no horário das oito, como acontece com Bang Bang, hoje, no horário das sete.

Mas tinhamos um trunfo, hoje inexistente. Fazíamos, com convicção e apoio do comando, um telejornal de linguagem visual popular e pauta muito mais voltada para as preferências das classes C e D, o que permitia, pelo menos, um combate com armas semelhantes às dos adversários.

Hoje, o JN tem enfoque e pose de classe média bem informada. Cobre política, economia e assuntos internacionais com linguagem de tevê por assinatura. Não tenho acesso a estudos recentes, mas posso arriscar, com base nas pesquisas feitas na minha época, e que guardo até hoje, que não é isso o que o público quer ver. Ou que, pelo menos, não quer ver relatado dessa maneira.

E, para contrariar contestações mais politizadas, afirmo que um telejornal popular não significa, necessariamente, um telejornal alienante ou de direita, assim como não precisa ser resultado de uma cobertura policialesca ou exploradora da violência gratuita.

3 comentários:

Liv Araújo disse...

Oi, Marona. Achei interessante a tua afirmação sobre a "linguagem de TV por assinatura", ainda mais tendo em vista a polêmica reunião de pauta que exaltava a incapacidade de compreensão do espectador "Homer Simpson". A estampa de TV por assinatura tá na linguagem mesmo ou na estética?

Mario Marona disse...

Lívia, assim que tiver um tempinho nesta semana agitada quero escrever alguma coisa sobre isso.

Anônimo disse...

Já era tempo de ocorrer uma concorrência leal na Televisão Brasileira, A Rede Globo, que é considerada um quarto poder na nação,que joga pedra em todo o mundo, porém que tem telhado de vidro, pois pratica na sua editoria rio uma serie de irregularidades, exemplificaria " Incêndio criminoso do XUXA PARK , envio para morte de seu repórter TIM LOPES com trancamento de ações penais e etc., deve saber que o futuro mostra que o poder deverá ser dividido.

Amém......

Postar um comentário