terça-feira, 25 de abril de 2006

O novo JB: ousadia e timidez andam juntas

Ao optar pelo formato berliner, O Jornal do Brasil fez o que tinha que fazer:

  • Teve coragem de lançar no país uma tendência que ganha força na Europa e nos Estados Unidos, o que lhe reserva o papel de pioneiro;
  • chamou atenção sobre si mesmo numa época em que o mercado brasileiro é agitado pelo lançamentos de novos jornais;
  • baixou custos e reduziu preço de capa, o que certamente contribuirá para lhe dar algum fôlego financeiro e, muito provavelmente, aumentar-lhe a tiragem.

Esses três motivos já seriam suficientes para justificar a nova opção.

Nem mesmo a semelhança do alto da primeira página com o londrino The Guardian, sobre a qual ouvi algumas críticas, deve ser motivo de preocupação. Se decidiram copiar, fizeram bem em aproveitar idéias de um dos mais bem resolvidos jornais do mundo. Até poderiam ter sido mais fiéis à fonte de inspiração. O jornal inglês explora muito bem os dois tons de azul do logotipo, reproduzindo-os nas chamadas que ficam acima do título. Evita chamadas apenas com títulos na parte inferior ao logotipo e só em casos excepcionais abre manchete além de duas colunas.

A comparação entre os dois jornais beneficia, em leveza e elegância, o diário londrino. Numa cidade com tantos tablóides populares e sensacionalistas, a elegância na primeira página é fundamental, para delimitar diferenças – e aqui me refiro a Londres, embora a mesma situação possa se aplicar ao Rio de tantos jovens jornais “gritados”, como Expresso e Meia Hora.

Feitos os devidos elogios, vamos às críticas. Algumas dizem respeito unicamente à execução do formato adotado, outras são estruturais e não dependem do fato de o JB ser standard, berliner ou tablóide. No entanto, parece evidente que a diminuição do tamanho do jornal tornou mais visíveis alguns dos seus defeitos.

O recorte da foto da Sharon Stone na capa de segunda-feira era de uma rusticidade de jornal de mimeógrafo. As fotos internas lembram os velhos clichês tipográficos. Os borrões e falhas de impressão parecem uma homenagem aos velhos tempos da Tribuna de Taquaritinga, com todo respeito a esta progressista comuna e, é claro, ao seu mais dileto filho, o comandante-em-chefe do JB.

O novo Jornal do Brasil não precisa parecer uma versão genérica e apressada do standard, ainda que seja mais barato. A não ser que esteja nos planos do jornal induzir o assinante a pensar que o JB que agora chega às bancas é a sua versão do Meia Hora ou do Expresso.

As primeiras edições deste JBerliner não parecem apenas mal-ajambradas ou diagramadas às pressas. Sugerem ao leitor acostumado com o jornal uma certa confusão nos critérios editoriais. Se o JB não abriu mão do conceito de jornal de classe média com fidelidade na Zona Sul e arredores – o que jamais deveria fazê-lo -, precisa dar esta cara ao novo formato: na escolha da manchete, na seleção dos assuntos, no estilo dos títulos.

Não pode, por exemplo, dedicar a manchete de segunda-feira à vitória do Flamengo no campeonato brasileiro, por duas razões: porque não faz parte da tradição do JB este tipo de escolha e porque, além disso, a manchete foi um erro, uma vez que não foi apenas o Flamengo a vencer entre os clubes cariocas.
No sábado, ao optar pelas mãos manchadas de Lula como manchete, não podia ter deixado de publicar na primeira página a imagem do presidente e, em tamanho menor, a foto de Getúlio Vargas fazendo o mesmo gesto.

Na verdade, é bem mais difícil fechar uma primeira página de tablóide ou berliner. A escolha da manchete precisa ser muito mais rigorosa, assim como a seleção da foto principal. Num jornal de tamanho menor, cresce muito o risco dos editores, tanto da primeira página quanto das páginas internas. No espaço amplo do standard, o editor sempre pode dizer: “Eu dei tudo”; no berliner ou no tablóide, tem que acertar na mosca, com poucos tiros.

O berliner não é um standard reduzido, é um novo jornal, que exige novos critérios de escolha e um novo conceito de edição. Não é um standard espremido em espaço menor. Não é o JBzinho do JB, como o Expresso é o mini-Globo e o Meia-Hora é o mini-Dia. Não deve estar sendo fácil estabelecer esta diferença numa redação que é obrigada a fazer dois jornais com as mesmas notícias. E eis aqui, talvez, o maior equívoco do projeto: a manutenção de uma versão standard, provavelmente por receio de chocar e espantar os assinantes, mas que contrasta com a coragem demonstrada na decisão de lançar o berliner.

O JB acabou sendo ousado e tímido ao mesmo tempo. Se o novo formato é moderno e contemporâneo e foi adotado por alguns dos mais prestigiados jornais do mundo – argumentos com os quais concordo plenamente - o JB poderia afinar o discurso, fazer um ótimo berliner e convencer seus leitores – assinantes ou não – de que está fazendo o melhor. Poderia acrescentar ousadia gráfica e experimentação editorial ao atrevimento que demonstrou ao mudar de tamanho.

11 comentários:

leonardo marona disse...

não vi o JB standart mais nas bancas. achei que tivessem sido retirados de circulação, em troca do berliner.

leo

Anônimo disse...

Marona,

e a tão prometida análise sobre o novo projeto gráfico-editorial do O Dia? Estamos aguardando.

grande abraço

CFagundes disse...

Show de bola.
Mais cedo ou mais tarde, o berliner vai entrar para assinantes.
Estranho, será que é só timidez mesmo?

Anônimo disse...

GOSTEI DA RESALVA A TAQUARITINGA, COMO SENDO UMA COMUNIDADE PROGRESSISTA. ISTO PORQUE TENHO UMA COLUNA NO JORNAL "O DEFENSOR", DAQUELA CIDADE. ALIÁS, AUGUSTO NUNES É SÓCIO PROPRIETÁRIO, DO JORNAL "NOSSO JORNAL" DE TAQUARITINGA, E NÃO DO JORNAL "TRIBUNA" COMO FOI CITADO. SÓ PARA SABER, O JORNAL "TRIBUNA" DE TAQUARITINGA É DE PROPRIEDADE DO PRESIDENTE DA CÂMARA, O JORNAL "O DEFENSOR" PERTENCE AO PREFEITO E O "NOSSO JORNAL" AO ILUSTRISSIMO JORNALISTA AUGUSTO NUNES E FAMILIA. NESTA CIDADE, DE POUCO MAIS DE 50 MIL HABITANTES, CIRCULAM NADA MENOS DO QUE 6 JORNAIS.

Anônimo disse...

Infelizmente, não posso concordar com a parte de que o JB reduziu custos. Não é verdade. O Jornal não tem impressora que roda no formato berliner, por isso tem que rodar em formato standard e cortar papel. Isso não é economia. ALém disso, manter duas ediçoes distintas, que tem mudanças de conteúdo e precisam de "re-adaptações gráficas" para coexistirem, não pode ser nada econômico.
Sem contar que do ponto de vista gráfico o JB não é mais referência em nada, como fora antes. E do ponto de vista do conteúdo...bem não vejo nenhuma vantagem neste "novo JB".
Não que eu não ache válida a mudança, só acho que realmente possui mais defeitos do que qualidades.

Marcus Cavalcante disse...

Marona você está com preguiça ou muito ocupado? Se for só preguiça passa no meu blogspot

um abraço
mcavalcante

Anônimo disse...

você já viu o JB novo na Internet? A idéia geral, de funcionar como se fosse o próprio jornal é até interessante, pena que seja impossível fisicamente de ler - e eu vejo bastante bem.

Anônimo disse...

Olha, eu sou um leitor teimoso do JB, mas está difícil, há muito. Agora estamos numa fase esquizofrênica total. O tal do berliner implica em fazer uma suruba em todo o jornal, é caderno misturado com outro, leva um tempo até você montar o quebra-cabeças. E a coisa ficou mais que rústica. Impressão pior, coisas fora do lugar, sem contar que o conteúdo há muito está devendo. E por falar em suruba, neste final de semana havia matéria sobre uma, em um barco, acompanhada pela entusiasmada repórter. Tudo bem. Mas fizeram uns efeitos nas fotos para não identificar os personagens que entrou para os anais das chacotas jornalísticas. Eram borrões com legendas que diziam ali existirem mulheres rebolando ou fazendo isso ou aquilo. Delírio total. E não me parece estar havendo economia. Que sentido faz isso se existem formatos diferentes para serem editados e preço mais barato nas bancas? Como muitos, estou torcendo. Mas estou cético.

Anônimo disse...

Marona, ótima análise.
Seu blog é uma verdadeira aula e já entrou para as minhas visitas diárias :)

Anônimo disse...

Creio que a citação do Tribuna de Taquaritinga remete aos antigos jornais da década de 50. O atual Jornal Tribuna, de propriedade do Vanderlei tem cerca de 8 anos. Sendo assim, é possível que esteja sendo citado o atual Nosso Jornal, que atualmente é de propriedade da família Nunes da Silva.

Anônimo disse...

Caro Marona,
Saiba que o melhor e mais criativo jornalista que Taquaritinga gerou foi, na verdade, o falecido Luís Mirabelli, aliás um crítico contumaz da Dinastia Nunes da Silva. Luís Mirabelli foi criador do célebre jornal satírico-político "Incitatus", que merecia ser alvo de reedições futuras.
O abraço,
do Taquaritinguense

Postar um comentário