segunda-feira, 17 de abril de 2006

Richtofen: o que o Fantástico não explicou

O Fantástico dedicou longa reportagem, ontem, ao caso Richtofen. Seria melhor chamar de caso Fantástico-Richtofen. Parte da matéria dedicou-se a justificar o comportamento do programa, mas infelizmente algumas perguntas ficaram sem resposta:

  1. Se o próprio texto da matéria admite que qualquer advogado tem o direito de orientar seu cliente a mentir para não se incriminar ou, pelo menos, para facilitar sua defesa, por que a atitude dos representantes de Suzane Richtofen foi questionada pela reportagem e pelas fontes que o programa ouviu?
  2. Por que o Fantástico ofereceu a uma assassina confessa espaço para se defender se sabia muito bem - e não dependia do vazamento acidental para confirmar - que ela usaria o tempo disponível para se passar por vítima?
  3. Por que o Fantástico aceitou previamente, como revelou ontem, exibir a entrevista de uma assassina confessa sem qualquer contestação ou imagem de arquivo, acordo que a beneficiaria em detrimento da isenção jornalística e que teria sido rigorosamente cumprido não fosse o acidente do vazamento da orientação dos advogados?
  4. Por que o Fantástico pôs no ar as orientações dos advogados vazadas no microfone antes da gravação da entrevista em vez de, diante da constatação de que a menina estava sendo orientada a fingir, simplesmente cancelar a gravação da matéria naquele momento?
  5. Por que uma assassina confessa, que estava solta, só voltou a ser presa quando o Fantástico mostrou que, além de assassina, ela é mentirosa, como se a dissimulação fosse crime mais grave do que o homicídio?

4 comentários:

Marcus Cavalcante disse...

Por que? Por que? Por que?...
O que você faria, caro Marona, se fosse o editor chefe do Fantástico? Acho também facílimo criticar depois de uma repercussão. Difícil é decidir, como jornalista, o que fazer diante destas situações. Mas acho que o pior mesmo seria omitir todos os fatos. Que a criminosa deu uma entrevista e que está tentando se defender, a qualquer custo, da acusação do evidente crime.

Marcus Cavalcante disse...

Por que? Por que? Por que?...
O que você faria, caro Marona, se fosse o editor chefe do Fantástico? Acho também facílimo criticar depois de uma repercussão. Difícil é decidir, como jornalista, o que fazer diante destas situações. Mas acho que o pior mesmo seria omitir todos os fatos. Que a criminosa deu uma entrevista e que está tentando se defender, a qualquer custo, da acusação do evidente crime.

Mario Marona disse...

Meu caro marcus:

Eu não pautaria uma entrevista com a Suzane Richtofen, a não ser que pudesse apresentar contrapontos e opiniões divergentes às dela.

Eu não faria com ela um acordo para exibir apenas o que ela quisesse e bem entendesse, sem contestação.

Se fosse derrotado nessas duas premissas - até porque na Globo as decisões nunca são individuais - eu seria contra a exibição da entrevista, depois do vazamento das orientações dos advogados.

Mesmo porque, em tese, sou contra o uso de informações obtidas com microcâmeras e microfones escondidos (acidentalmente ou não), exceto em casos especialissimos - e este não me parece ter sido.

Finalmente, é claro que é muito difícil decidir diante das situações de fato, assim como é mais fácil criticar depois. Mas eu me considero no direito de criticar porque abri um blog pra isso - analisar a imprensa - e porque nunca neguei que tenha cometido todos os erros possíveis e imagináveis quando estive com o poder de decidir.

Já errei e acertei muito, o que me torna um crítico menos suspeito, quase sempre.

Cleber disse...

Eu vou dar uma resposta que irá resumir a solução para todas as indagações feitas:

- PORQUE A IMPRENSA, É TIDA HOJE (de forma totalmente inadequada), COMO O 4º PODER; E, TENDO ESSA CONCEPÇÃO ERRÔNEA DE QUE TEM UM PODER ILIMITADO, A IMPRENSA BRASILEIRA FAZ MAL USO DOS INSTRUMENTOS DO QUAL DISPÕE.

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