Estou cansado de indignações sem direção.
Todo mundo fica indignado, principalmente quando é pessoalmente atingido. Ficam quietos, alienados, não sabem sequer em quem votaram na eleição passada, mas diante de qualquer contrariedade - mais ou menos importante - viram feras cívicas. Ignorantes, mal informados, incultos, partem para o caminho mais fácil e gritam contra "tudo o que aí está".
Gostam muito de falar que vivemos "eras": "era da impunidade", "era da corrupção", "era da degradação"... Se alguma era nós vivemos, é a
da simplificação e da ignorância barulhenta.
O surfista Fred D'Orey, identificado como empresário-surfista, seja lá o que isto signifique, foi asssaltado na Linha Vermelha quando saía do aeroporto Tom Jobim. Levaram o carro dele, cheio de bugigangas trazidas da Libéria. Justamente indignado - pelo menos havia um motivo, embora o carrão tenha sido recuperado rapidamente pela polícia - D'Orey postou um manifesto na internet.
Não reclamou do assaltante. Não se queixou da polícia. Preferiu simplificar e generalizar:
— Tenho muito nojo desses políticos safados que saqueiam o meu Brasil. Canalhas!
Deu certo. O surfista indignado contra "o que aí está" mereceu página inteira no Globo de hoje, abrindo a edição de cidade. Mereceu também perfil-exaltação:
"Um carioca que não se acomoda"
"Um carioca que resiste à onda de letargia diante das mazelas do Rio"
"Caso raro de carioca indignado"
Ora, ora! Foi preciso que roubassem o Pajero deste carioca para que ele mostrasse que é um indignado.
Outros cariocas aderiram à onda de indignação criada por D'Orey. O ator Fábio Assunção mandou logo um email, propondo uma "parceria entre artistas, jornalistas e sociedade". Se posso me considerar "jornalista" e "sociedade" vou logo avisando:
— Me inclua fora dessa!
Não faço parceria com artistas. Aliás, não faço mais parcerias. Mas posso garantir: sei muito bem em quem votei nas últimas eleições e, mais do que isto, repetirei o meu voto, porque me considero devidamente representado pelos meus congressistas. Não participaram do mensalão, não são sanguessugas e
estão na linha de frente do esforço para limpar o Congresso Nacional. D'Orey e Fábio Assunção devem ter votado mal. Aprendam, surfistas e artistas. Votem direito.
E não venham também com essa conversa mole de propor um boicote ao pagamento de impostos, reação típica de uma classe média oportunista. No Brasil, pagamos muitos impostos porque muitos empresários - surfistas ou não - sonegam alegremente e, quando questionados, alegam:
— Não vou dar dinheiro para esses governantes corruptos.
Mas D'Orey e Assunção não estão sozinhos, infelizmente. Os jornais estampam hoje em suas primeiras páginas um manifesto dos donos de veículos de comunicação clamando por um "basta à violência". Têm razão, mas podiam ter feito isso antes do seqüestro de um repórter da TV Globo. Até então, ao que parece, para os donos de jornais a situação não era tão grave a ponto de levar a uma "carta aos brasileiros".
Se D"Orey e Assunção não sabem votar, os donos de jornal também não aprenderam a apoiar os políticos certos.
4 comentários:
Falou e disse.
Isso deve virar um spam.
Um spam do bem, é claro.
sufista e carioca? Eh ruim hein???? Soh faltava ser lutador de jiu-jitsu e ter um pitbull! he he
Eh nois!
esse jornal tá chaaato...
Aham... mal perguntando.... O que alguém traria do pior país do mundo? O suficiente para encher um carro?
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