Globo relata uma briga que ainda não houve

Para O Globo, o candidato do PMDB ao governo do estado, Sérgio Cabral, está rompido com a governadora Rosinha Garotinho. Para todos os demais jornais, isto não aconteceu. A cada três ou quatro dias, O Globo publica, quase sempre com chamada na primeira página, matéria em que o candidato oficial contesta políticas do governo que representa. A leitura dos textos, no entanto, não permite a mesma conclusão do repórter ou de quem editou a matéria.

Sérgio Cabral afirma, em visita à Rocinha, entre outras coisas, que a PM deveria enviar às favelas os seus carros blindados apenas como segunda opção, depois de tentar controlar os conflitos entre os traficantes de outra maneira, e o Globo conclui:

"Sérgio Cabral crítica política de segurança de Rosinha".

O candidato do PMDB defende, como fez sexta-feira, que o policiamento ostensivo seja ampliado em algumas áreas da Zona Norte, e O Globo tasca:

"Sérgio Cabral critica política de segurança de Rosinha".

Curiosamente, todos os demais jornais têm repórteres acompanhando as mesmas entrevistas e nenhum deles percebe, nas declarações de Sérgio Cabral, uma censura à política de segurança do governo.

Mas neste fim de semana, o jornal se superou na liberdade de interpretação. No domingo, em matéria especial escrita por um editorialista do jornal, O Globo informa, inclusive na manchete de página, que o candidato governista está assustado com a situação econômica dramática do Rio. Na edição de sábado, em notícia de uma coluna em pé de página do mesmo jornal, Sérgio Cabral fazia elogios à política econômica do estado.