sexta-feira, 11 de agosto de 2006

O Hezbolá é terrorista, sim

O Marcus, leitor deste blog, pergunta:

Você realmente acredita na grande mídia, quando esta diz que o Hezbollah é um grupo TERRORISTA?

Quando fala em grande mídia, o Marcus deve estar se referindo aos jornais de maior circulação e às emissoras de TV de maior audiência. Não seria errado deduzir que esta parte da mídia criminaliza as ações dos grupos que se opõem a Israel. Mas seria um exagero generalizar. O que leio diariamente nos grandes jornais, em muitos casos, são artigos de intelectuais e analistas fazendo o oposto: ou criticam Israel por princípio ou pelo menos censuram os judeus pelo que consideram uma reação desproporcional às provocações do Hezbolá.

A vida fica mais fácil quando nos debruçamos sobre um jornal sabendo de antemão que vamos ler textos elaborados por um representante da mídia sionista. Esta visão, no entanto, simplifica o que não é assim tão simples e ignora que dentro das redações vive-se uma guerra ideológica, muitas vezes opondo jornalistas de esquerda - a maioria dos quais auto-proclamados intelectuais humanistas - e patrões inibidos pela intimidação do politicamente correto. E o mais complicado ainda: alguns patrões são, também, humanistas.

Ontem, os serviços de inteligência da Inglaterra revelaram a descoberta de um plano destinado a explodir no ar, sobre o oceano Atlântico, pelo menos dez aviões de passageiros que fariam a rota Londres-Nova York. Sempre acusados de incompetência por não conseguir se antecipar aos atentados - como aconteceu no 11 de setembro - desta vez os serviços de inteligência acertaram. É claro que a ação policial provocou muito desconforto e confusão nos aeroportos. É claro que houve exageros e até prosaicos frascos de shampu se tornaram suspeitos. Mas a verdade é que o governo britânico obteve uma importante vitória contra o terror. Ponto para Tony Blair? Que nada!

O Globo de hoje abre uma página com a seguinte manchete:

"Complô deixa Blair em maior apuro político".

Na relato do correspondente do jornal - um humanista, por certo -, Tony Blair, em férias no Caribe, "acompanhou apenas de longe o pandemônio provocado nos aeroportos britânicos". E será responsabilizado pela ameaça terrorista, que seria um efeito mais ou menos natural de suas relações "para lá de amistosas" com o governo americano.

Na mesma página, logo abaixo, o Globo publica uma entrevista com o oportunista Tariq Ali - que se considera um intelectual humanista e é bajulado como escritor numa feira em Paraty. O que ele faz? Duvida da informação de que terroristas preparavam atentados contra aviões e conclui:

— O governo Blair já espalhou medo e terror com base em informações que não eram verdadeiras.

Se isto é mídia sionista, o que seria uma mídia anti-semita?

Quanto ao Hizbolá, eu o considero, sim, um grupo terrorista. Não pelas ações atuais, em que age como um grupo paramilitar travestido de partido político legal. Mas posso citar rapidamente meia dúzia de grandes atos terroristas que tiveram a participaram direta do Hizbolá.
  • Ataque suicida às forças de paz da Onu em Beirute em 1983 e contra a embaixada americana no Líbano, com centenas de mortos civis e militares.
  • Entre 85 e 86, 13 atentados a bomba em Paris, com 13 mortos e 250 feridos.
  • Atentado contra um restaurante espanhol em abril de 85, com 18 mortos e 27 feridos.
  • Atentado à embaixada israelense em Buenos Aires, em 92, com 130 mortos.
  • Vários atentados em países árabes, contra muçulmanos sunitas, na Arábia Saudita, no Kuwait e no Bahrein.

A jihad global defendida pelo Hizbolá inclui o terrorismo como método. Abertamente, sem disfarces. O grupo já fez por merecer um elogio público de Osama Bin Laden, que qualificou o atentado suicida de 83 em Beiture como "a primeira grande derrota americana" para as forças jihadistas.

A grande mídia suaviza como pode a diferença entre o estado israelense, legal e democraticamente constituído, e os paramilitares do Hezbolá, que têm um braço político com parlamentares eleitos e ministros no governo libanês. Para isto, mistifica a relação do grupo com o povo libanês. Noticia, por exemplo, que mesmos os cristãos do país estão apoiando a milícia xiíta. Uma garimpagem na internet permite descobrir que isto não é verdade.

Libaneses cristãos estão sendo usados como escudos humanos: têm os telhados de suas casas transformados em pontos de lançamento de mísseis contra Israel e, quando tentam fugir, acabam mortos pelos próprios guerrilheiros, como se fossem desertores de uma guerra que não escolheram.

2 comentários:

leonardo marona disse...

faz diferença ser terrorista assumido ou disfarçado?

outra coisa: alguém realmente acha que exista nesse absurdo, promovido pelo fanatismo e estimulado por Bush e Laden, um lado certo e outro errado?

Por acaso ser humanista é um erro estratégico?

José Antonio Rocha disse...

O Hizbalá ataca Israel sabendo que o estado judeu atacará de volta de forma pior ainda. E sabe que não poderá vencer. Ou seja: usa cadáveres do seu próprio povo como press release.

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