segunda-feira, 21 de abril de 2008

Casal suspeito no Fantástico

O casal indiciado pela morte da menina Isabella Nardoni não precisava dos 35 minutos que ganhou de presente do Fantástico, domingo, com direito à longas reproduções em todos os telejornais da emissora nesta segunda-feira. Bastavam os seis minutos finais, quando finalmente, depois de várias tentativas, Alexandre Nardoni, o pai, conseguiu chorar e resumir, aos soluços, acompanhados pela mulher, Anna Carolina, a orientação de seus advogados: chamar a menina de princesinha, afirmar que formam uma família muito unida, e dizer que o mundo deles acabou desde o assassinato da criança que tanto amavam.

A promotoria vai ter que provar que os dois são assassinos, independentemente da opinião de cada um de nós. Embora todos os laudos da perícia sirvam para incriminá-los, não seria surpreendente um erro da polícia. Nem seria a primeira vez. O que importa, neste comentário, não é a luta que se travará no tribunal entre acusação e defesa.

O que interessa, aqui, é a dúvida sobre a decisão da TV Globo de, em nome da exclusividade da entrevista, submeter-se rigorosamente ao interesse da defesa do casal. Só nos últimos seis minutos, o repórter Valmir Salaro pôde fazer uma ou duas perguntas sobre os indícios de que o casal é culpado - o sangue no carro e na fralda. Até então, o que se viu foi um desfile constrangedor de perguntas ou comentários que pareciam ensaiados com os advogados de defesa:

- Vocês estão sendo acusados de um crime grave. Como é suportar esta acusação?

- Vocês estão sofrendo de todos os lados...

- As cenas gravadas no supermercado mostram de vocês a imagem de uma família unida...

- Só investigaram a vida de vocês, não investigam uma terceira ou quarta pessoa...

- Você perdeu uma amiga, uma filha...

- A família toda sofre, não é?

O tempo da entrevista não chega a ser o maior problema. Poderia durar 40 em vez de 35 minutos, desde que Valmir tivesse o direito de agir como repórter. Na verdade, a exaustiva e prolongada repetição de frases que pareciam bordões combinados com os advogados pode ter sido até prejudicial à imagem do casal.

Neste caso, como em alguns outros, a matéria acaba e eu me pergunto quem saiu ganhando com isto: o público, submetido a uma falsa entrevista? A TV Globo, forçada em nome da audiência a aceitar o jogo dos advogados de dois possíveis assassinos?

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