Bom jornalismo dá trabalho. Deveria, pelo menos, se não vivêssemos a era dos dossiês e das informações suspeitas que caem no colo dos repórteres, prontas, mastigadas, interpretadas. O jornalismo de dossiê não requer prática nem habilidade, como dizem os camelôs de produtos baratos que, em casa, nunca funcionam. Qualquer criança monta, eles acrescentam. Com meia dúzia de cópias faz-se uma dúzia de manchetes.
A facilidade nem sempre chega na forma de um envelope pardo. Pode vir através de uma fonte interessada em construir a sua própria carreira e que pôe o repórter no “olho do furacão”. “Venha comigo que você vai ter uma matéria sensacional”. A única exigência é que a fonte apareça muito na reportagem, enfrentando situações difíceis, salvando vidas, protagonizando um gesto heróico. A contrapartida é a exclusividade.
Mas ainda existe muito jornalismo nas redações. A repórter Taís Mendes, do Globo, é autora de esplêndida matéria publicada na edição deste domingo. Deu trabalho: ela percorreu as 39 praias existentes na Costa Verde, litoral Sul do Rio de Janeiro e constatou que apenas 11 delas têm acesso liberado ao público. Quatorze foram completamente privatizadas por hotéis e condomínios de classe média, dez são controladas por seguranças, que vetam a entrada de “estranhos”, e quatro têm acesso tão difícil que se torna impossível.
Uma página e meia de bom jornalismo, como nos velhos tempos, com fotos de Márcia Foletto, boas descrições, reproduções de diálogos e espaço para o contraditório. A melhor reportagem do domingo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário