sábado, 24 de maio de 2008

Barbárie e saudade do tio Zezinho

Tio Zezinho tinha um Gordini. Belo carro, na época. Compacto, como se diria hoje. E bota compacto nisso. Mal cabiam quatro pessoas. O Gordini do tio Zezinho estava sempre tinindo de novo, limpinho, com a pintura brilhando. Como afilhado, eu tinha direito de andar de vez em quando no banco de trás do Gordini. O da frente era da mulher do tio Zezinho, a tia Mulata. No banco de trás, nos espremíamos - eu e as lindas primas Sandra, Tânia, Lia e Eliane. Era um aperto que, por sinal, me agradava muito (perdão, primas).

Foi num dos passeios com o Gordini do tio Zezinho que eu conheci um exemplo de civilização. Fechado por um outro carro, não lembro se um DKW ou ou Simca, tio Zezinho não hesitou: rodou cuidadosamente a manivela que fechava a janela e gritou: "barbeiro, filho da puta!".

É claro que o motorista-barbeiro-filho-da-puta não ouviu nada. A janela do Gordini estava hermeticamente fechada. Mas o meu padrinho tinha desabafado e, logo depois, estava calmo. Eu achei aquilo o máximo.

Ontem, aqui no Rio, um motorista ultrapassou o sinal fechado, quase atropelou uma família e, recriminado pela vítima, desceu do carro com uma barra de ferro nas mãos e espancou o sujeito na frente dos sobrinhos. O homem está em coma. O motorista fugiu.

É verdade que, como diz Calcanhoto, cariocas são bacanas e não gostam de sinal fechado. Mas ao ler esta notícia senti saudades do tio Zezinho.

E das primas, é claro.

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