domingo, 8 de junho de 2008

Como esquentar uma matéria

O relatório feito pela Polícia Federal como resultado da Operação que resultou na detenção do deputado Álvaro Lins levanta a hipótese de que o próprio Álvaro, Além de Anthony Garotinho e Rosinha, sua mulher, tenham recebido propinas dos bicheiros entre 2003 e 2006. Um pen drive que pertenceu a Rogério Andrade, filho do capo Castor, indica valores destinados a pessoas identificadas apenas com apelidos ou codinomes: "cardeal, príncipe, madame". A PF sugere que estes apelidos são possíveis referências, pela ordem, a Álvaro Lins, Garotinho e Rosinha.

Notícia importante e "vendedora" de jornal? Claro. Que jornal deixaria de publicá-la com destaque? A sugestão da PF merece vitar notícia mesmo que o relatório tenha afirmado que trata-se apenas de uma possibilidade, e ainda que o Ministério Público, ao qual caberia pedido de indiciamento, tenha afirmado taxativamente que trata-se apenas de "ilações" e, por esta razão, tenha ignorado totalmente esta parte do relatório.

Pois para o Globo a afirmação do relatório de que os apelidos são "possíveis" referências a três autoridades era muito pouco para justificar a manchete deste domingo. E o jornal tratou de arrumar um verbo que sustentasse um lead e esquentasse a matéria. Tascou lá, no primeiro parágrafo:

"(...) as planilhas de gastos encontradas pela Polícia Federal, em 2006, num pen drive do contraventor Rogério Andrade REVELAM que ex-integrantes do alto escalão do governo do estado teriam sido beneficiados com o pagamento de propinas".

Pronto, em vez de possibilidade, temos uma revelação. Possível é menos que provável, revelação é a verdade demonstrada. E, assim, garante-se uma manchete de domingo e, de quebra, mais uma fustigada em dois adversários.

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