A mesma foto, a mesma idéia de manchete, o mesmo apelo demagógico, mas duas intenções diferentes.
O Dia abusa da linguagem populista:
"Saiu o Exército, saiu o governo, saiu a política.... e assim ficou a casinha de dona Maria na Providência".
O Extra já mostra no antetítulo onde quer chegar com a mesma "ferramenta":
"Seis meses e três assassinatos depois, Justiça suspende obra de Crivella na Providência. Exército bate em retirada. E dona Maria fica sem casa."
A intenção do Dia é sugerir que a ação da Justiça prejudicou os moradores. Não faz referência ao uso eleitoral das obras pelo senador Marcelo Crivella. Passa ao leitor uma idéia falsa.
Dona Maria foi prejudicada pela exploração da sua pobreza por um político e pelo respaldo que o governo federal deu ao seu projeto eleitoral. Como sempre acontece. A velha repetição da idéia de que favores valem votos.
Na verdade, não foi apenas dona Maria que perdeu. Perdeu a comunidade inteira. Perdeu o Exército, desmoralizado por servir de instrumento político. Perderam os três jovens assassinados. E ganhou o tráfico, que durante seis meses não foi incomodado pelos militares. Ganharam também os traficantes da Mineira, que receberam de presente três inimigos para matar.
Perdeu a democracia, degradada por obras de ocasião em ano eleitoral.
A manchete do Extra também é demagógica porque, neste caso, tenta atribuir apenas ao senador Crivella a responsabilidade pela situação de dona Maria. Faz cumprir, assim, a linha editorial da empresa a que pertence, que elegeu Crivella, a Rede Record e a Igreja Universal como adversários estratégicos.
Perde, finalmente, o leitor, que pode não perceber que não há jornalismo isento em nenhuma das duas manchetes.
Um comentário:
O Dia é, há muito tempo, porta-voz do governo Lula e seus aliados, além de entusiasta da estado-dependência.
Vale lembrar a capa que o diário publicou uma dia após a reeleição do nosso guia (e o bundão chapa-branca ainda elogiou):
http://luiscarlosgusmao.blogspot.com/2006/10/enfim-uma-boa-manchete.html
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