quinta-feira, 19 de junho de 2008

Dunga e Exército têm prazo para sair

Comentário das 9 e 30 na Mundial AM1180. Observo que, como falo numa rádio, tento utilizar linguagem mais popular e adequada ao veículo. Eventualmente, pode ficar simples demais, mas é difícil fugir disso.

A gente comenta aqui as manchetes de cada dia. Hoje, só há duas manchetes em praticamente todos os jornais brasileiros: o Exército tem prazo de 24 horas para se retirar do Morro da Providência e Dunga tem um pouco mais do que isso para se retirar do cargo de técnico da seleção brasileira.

Mas às vezes uma leitura atenta dos jornais nos leva a encontrar informações mais interessantes que as manchetes. Nos ajuda também a tirar conclusões importantes, que fogem um pouco do senso comum e da lógica imposta pelos próprios jornais.

De todos os jornais, o que traz a notícia mais terrível é o Extra. Ele conta, com destaque na primeira página, que o tenente Vinicius Ghidetti, comandante da operação que levou aos assassinatos, falou assim com os traficantes do Morro da Mineira, quando chegou com os três jovens da Providência:

“Trouxe um presentinho para vocês. É da Provi”.

Isto está na manchete. O que ficou lá dentro dos jornais, sem tanto destaque, é a notícia de que os militares comandados pelo tenente Vinicius podem ter recebido 60 mil reais pelos três jovens que entregaram aos traficantes da Mineira. Eles costumam pagar 20 mil por inimigo que recebem para torturar e matar.

E aqui, finamente, descobrimos o valor das vidas daqueles jovens, assunto sobre o qual conversamos ontem: 20 mil reais. Vinte mil! Homens vendidos pelo preço de um carro usado!

Os jornais contam também, mas não expõem nas suas primeiras páginas, que o uso do Exército para proteger as obras do senador Marcelo Crivella na Providência foi antecedido de uma negociação com os traficantes da favela. Assessores de Crivella fizeram um acordo com o tráfico: o Exército não reprimiria a venda de drogas e os traficantes, em contrapartida, não criariam problemas para os militares.

Segundo a notícia, o comando do Exército foi informado sobre esta negociação. Se foi mesmo, por que não reagiu?

Também há um outro assunto importante, neste caso, que não aparece nas manchetes e fica meio escondido nas páginas internas.
A polícia encontrou carros roubados por traficantes que seriam usados nos protestos contra o Exército. Aqueles protestos que a imprensa diz que foram promovidos por moradores revoltados, mas que na verdade são forjados pelos traficantes. Como quase sempre acontece. Os moradores das favelas são, na maioria, pacíficos, mas acabam sendo obrigados a fechar ruas e fazer manifestações violentas contra as autoridades. Eles sabem de quem devem ter medo...

Como todo o noticiário se concentra na ação do Exército, todo mundo acaba esquecendo que o tenente Vinicius e seus subordinados não são os únicos bandidos dessa história. Onde estão os assassinos dos jovens? A polícia do Rio, segundo outra matéria que está escondida no meio das edições, ainda não começou a procurar os traficantes da Mineira que mataram os rapazes vendidos pelo Exército.

Quanto a Dunga? Bem, este já ouviu ontem, no Mineirão, um grito uníssono: “Pede pra sair zero um!” E ele reagiu xingando a torcida. Ou seja: acabou e era Dunga.

E o pior é que não podemos mais contar com Scolari, que foi para o Chelsea.

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