quarta-feira, 18 de junho de 2008

Foi mal, diz o ministro. Menos mal

Meu comentário das 9 e 30 na rádio Mundial AM1180:

O mínimo que qualquer um de nós pode fazer quando comete um erro é pedir desculpas.

- Foi mal! – a gente costuma dizer.

Em nome da boa convivência, a vítima do nosso erro acaba perdoando e a vida segue sem problemas.

Ontem, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, subiu o Morro da Providência e, microfone na mão, pediu desculpas às mães dos três jovens que 11 militares venderam para assassinos de uma favela rival.

Por que precisou usar microfone, algo tão formal, numa situação em que um abraço apertado faria mais efeito? Não sei. Coisa de político, que adora luzes e microfones.

Foi mal, poderia ter dito o ministro.

Mas não deixa de ser elogiável que uma autoridade tenha a humildade de pedir perdão pelo assassinato de inocentes motivado pela ação de seus subordinados.

Já vivemos no Brasil uma época em que isto não aconteceria. Inocentes morreriam e ficaria por isso mesmo.

Vem desta época uma outra contradição que merece ser lembrada aqui.

As famílias dos três jovens assassinados no Morro da Mineira vão entrar na Justiça e exigir reparação. Fazem muito bem. Calcula-se que cada família pode receber, se vencer a causa, cerca de 300 mil reais de indenização e mais uma pensão mensal. Daqui a pouco vai aparecer gente criticando as famílias por estarem querendo ganhar dinheiro com uma fatalidade.

Como disse, não sou contra, mas pergunto: a vida de Marcos Paulo valia 300 mil? A vida de Wellington valia mais ou menos 300 mil? E a vida de David, tinha este valor? Nas circunstâncias em que viviam e pela maneira como foram tratados, pelo jeito valia menos. Não valia quase nada.

Valia certamente muito menos do que a vida de parte das 24.600 pessoas que ganharam indenizações do governo por terem sido supostamente perseguidas pela ditadura militar.
O cartunista Ziraldo, por exemplo, está vivinho da Silva, trabalhando e vendendo os seus livros, mas ganhou do governo indenização de 1 milhão e 200 mil reais e mais 4.300 reais por mês pelo resto da vida. O jornalista Carlos Heitor Cony também se declarou perseguido, continua vivo, trabalhando, e ganhou indenização de 1 milhão e meio mais 19 mil reais por mês, para sempre.

Como eles, há centenas que, mesmo sem terem sido torturados ou maltratados, obtiveram polpudas indenizações como vítimas da ditadura.

Eles certamente valiam mais do que David, Weillington e Marcos Paulo.

O sargento e os soldados que, comandados por um tenente, entregaram os três jovens para a morte na favela rival, estão dizendo que estavam apenas cumprindo ordens. A culpa seria apenas do tenente. Eles apenas respeitaram a hierarquia militar.

Pois vou contar uma história que desmente este argumento.

Em 1968, o chefe do gabinete do ministro da Aeronáutica, brigadeiro Burnier, mandou os militares do Parasar, que era o serviço de resgate de vítimas de acidentes, ser usado na repressão dos adversários do regime.

Um certo capitão Sérgio Ribeiro de Carvalho, disse que não poderia obedecer. Nem mesmo o respeito à hierarquia justifca que se use um serviço de salvamento para matar gente. Foi preso, mandado para a reserva e cassado pelo AI5.

Mas até hoje é respeitado como um herói brasileiro.

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