sábado, 7 de junho de 2008

Musiquinha em VT: argh!

No período em que exerci a função de editor-chefe do Jornal Nacional impus algumas regras de edição que me pareciam adequadas para um telejornal como aquele, que deveria ser sóbrio e tão rigorosamente fiel à realidade quanto possível.

Uma delas foi vetar o uso de fusões – para quem não conhece a linguagem de tevê, são aqueles momentos em que uma nova cena se sobrepõe lentamente a que está na tela e, durante alguns instantes, as duas imagens se confundem. Recurso comum no cinema, e mesmo em programas especiais de televisão, mas que raramente funcionam e, para quem não tem aparelhos de TV de boa qualidade – a maioria, pelo menos naquela época – resultam apenas em imagens ruins e confusas.

Vetei também a sonorização dos VTs. No JN não se usaria música para pontuar situações dramáticas, comoventes, engraçadas ou o que fosse. A cena deveria ser dramática, comovente, engraçada por si só, sem a contribuição de qualquer aparato estranho ao que aconteceu na rua, onde a reportagem foi apurada. É claro que houve exceções. Como noticiar a morte de Renato Russo ou de Frank Sinatra sem música? Mas eram exceções óbvias.

Quando uma equipe saía à rua para cobrir assunto que envolvesse música de alguma maneira, eu pedia: se tiver que incluir música, captem o som das canções ou dos cantos na rua mesmo, com os próprios personagens, sem apelo a arquivo.

A justificativa para esta restrição, com a qual muitos dos editores e alguns dos meus chefes concordavam, era a defesa da primazia da realidade sobre o que chamávamos de “edidite” – o exagero no uso dos recursos técnicos das ilhas de edição. A música, aposta à cena de uma reportagem, manipula os sentimentos do telespectador, o induz a se emocionar, o que não é honesto. Ou bem ele se emociona porque a reportagem está bem feita ou desistimos de arrancar dele esta reação.

Lembrei deste assunto, com o qual lidei em meados dos anos 90, na Globo, ao ler hoje um post do Tiago Dória - http://www.tiagodoria.ig.com.br/ - sobre uma empresa que vende um gigantesco banco de dados de músicas para ambientes de empresas e para reportagens de televisão. Pelo jeito, minha posição foi para o beleléu, para usar uma gíria bem nova.

Eis o post:

De um ano para cá, a empresa vem ganhando destaque e clientes de peso - McDonalds, IBM e a rede de TV NBC. O seu serviço tem uma idéia simples. A AudioBrain é responsável por criar músicas ambientes para diversos segmentos.
Nos EUA, por exemplo, é responsável por participar de um projeto piloto na criação de “música de fundo” para os restaurantes da rede McDonalds - algo bem diferente daquela rádio ligada o dia inteiro aqui, no Brasil.
Já na IBM, também nos EUA, faz a “trilha sonora” para as palestras de seus funcionários. Ou seja, conferências com trilha sonora.
A
AudioBrain é tema de uma matéria da última edição da revista Fast Company, sobre o interessante trabalho que estão fazendo junto à rede de TV NBC para as transmissões das Olimpíadas de Beijing, na China.
Estão criando uma espécie de “sistema online de gerenciamento de conteúdo musical”, com um gigantesco banco de dados, alimentado com diversas trilhas e músicas incidentais para serem utilizadas, a qualquer momento, nas reportagens da emissora sobre os jogos olímpicos.”

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