sexta-feira, 6 de junho de 2008

O boçal

Sabe um boçal? Basta uma olhada rápida, dos pés à cabeça, para ter certeza. Principalmente a cabeça. Os olhos muito próximos um do outro, a sombrancelha que se ergue pontuando o final de cada frase. O sorriso que fica ali o tempo todo. Ele ri ao começar a piada. Ri fora de hora.

Pois o boçal estava ontem de manhã no alto da escada de três degraus na entrada do Unibanco da Urca, na porta que separa o espaço dos caixas eletrônicos que não funcionam direito dos caixas humanos em número insuficiente.

O boçal vestia uma camiseta e um boné do Fluminense e segurava uma bandeira enorme do time, num mastro que quase batia no forro da agência. Ficava ali, se sacudindo, rindo sem parar e fazendo piadas para cada cliente que entrasse na fila. Mesmo de longe, era impossível não ouví-lo.

O segurança do banco, daqueles que costumam impedir a entrada de quem carrega celular no bolso, se divertia muito com o boçal. Achava a maior graça de tudo aquilo. Rubro-negro, provocava o tricolor, o que fazia aumentar o tom da discussão amistosa entre os dois.

Quem passava reagia com um sorriso inicial e, logo depois, se constrangia. Não fazia sentido o comportamento daquele sujeito de mais de 40 anos. O lugar era inadequado, a festa, àquela altura, extemporânea.

Foram quase 40 minutos de tortura, até que eu consegui chegar a um dos dois únicos caixas. Quarenta minutos na fila para descobrir que a conta que pretendia pagar não podia ser aceita sem um código de barras.

Fiquei 40 minutos perto do boçal por nada. E quando liguei para minha mulher para contar o quanto tinha sido torturado e me esforcei para descrever o sujeito que me atazanou, ela respondeu, bem-humorada:

- Ah! Já sei quem é. Aquele bonitão que passeia com um poodle.

Tem mais esta: boçais podem ser bonitões.

Um comentário:

leonardo marona disse...

muito pior, eles passeiam com um poodle.

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