terça-feira, 17 de junho de 2008

O tenente assassino

Meu comentário das 9h30m na Radio Mundial AAAM 1180:

Não havia muita diferença de idade entre Vinicius Ghidetti Morais de Andrade, David Wilson Florêncio, Wellington Gonzaga da Costa e Marcos Paulo da Silva.

Devem ter tido educações diferentes, é claro. Certamente era pobres, os quatro. David, Wellington e Marcos Paulo moravam numa favela. David tinha antecedentes criminais. Wellington já fora abordado pela polícia e levado a uma delegacia.

Vinicius, dos quatro, foi o que teve mais sorte. Nascido em Vitória, conseguiu vaga na Academia Militar de Agulhas Negras. Saiu de lá tenente do Exército brasileiro, certamente um orgulho para a família.

Pois foi justamente Vinicius, este que teve mais sorte na vida, que idealizou e comandou a entrega dos outros três jovens da mesma geração aos seus assassinos.

O tenente Vinicius comandou a operação que levou os três jovens do Morro da Previdência para as mãos dos traficantes inimigos do Morro da Mineira.

Eles foram torturados durante uma noite inteira. Tiveram as mãos decepadas. A perna de um deles foi arrancada. Depois, foram mortos com dezenas de tiros e jogados num lixão.

O tenente que teve sorte na vida não mostrava arrependimento com o que fez, segundo a polícia que o interrogou.

Pior: chegou a dizer que, antes de entregar os jovens para a morte certa, pensou em gravar nas testas deles as iniciais CV, de Comando Vermelho, a facção criminosa inimiga dos assassinos.

Talvez para dar mais emoção e graça ao plano.

O tenente conta também que os jovens choravam muito e pediam pelo amor de Deus para não serem entregues aos traficantes da favela da Mineira, porque sabiam que iam morrer.

Não adiantou nada. Vinicius e os seus comandados entregaram a mercadoria e foram embora. Vinicius deu uma ordem: não comentem o assunto com ninguém.

Pois a cidade não fala em outro assunto. O país não fala em outro assunto e os jornais do Brasil inteiro exibem o crime em suas primeiras páginas.

Não podia ser diferente.

Ontem, no Morro da Providência, a bandeira brasileira foi arrancada por moradores. Eles preferiram uma pano preto em sinal de luto. Provavelmente porque a bandeira brasileira, o maior símbolo nacional, os faça lembrar do Exército.

O Exército, diga-se de passagem, não consegue impedir que gente como o tenente Vinicius entre em suas fileiras. Pode ser rápido na punição de gente assim.

Mas pode, certamente pode, não aceitar ser usado com fins eleitorais, como acontece no Morro da Providência, onde serve de segurança para obras de pintura de casas promovidas por um candidato a prefeito.

Nós não temos boas lembranças dos tempos em que o Exército fazia política no Brasil. Vivemos uma ditadura de quase 30 anos. Hoje, tenho certeza, nem os militares querem este tipo de coisa.

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