segunda-feira, 16 de junho de 2008

Segunda-feira de medo

Comentário das 9h30m na Rádio Mundial AM 1180:

O medo é o sentimento que pode resumir nossa reação às manchetes dos grandes jornais desta segunda-feira.

Há dois assuntos importantes nas primeiras páginas e ambos são assustadores.

No plano nacional, começamos a viver o medo da inflação.

Folha e Estadão, os dois grandes jornais paulistas, dedicam suas manchetes de hoje a este assunto, com enfoques diferentes. Vejam:

No Estadão, a manchete é:

“Inflação freia vendas no Norte e no Nordeste”.

O jornal mostra que, como as altas dos preços atingem principalmente os alimentos, os mais prejudicados são os brasileiros das classes C e D, maioria nas duas regiões mais pobres do país.

A Folha diz na manchete:

“Inflação já afeta 71 por cento dos preços pesquisados”.

O jornal traz uma nova informação, ainda mais preocupante. Se antes eram só os alimentos que faziam subir a inflação, neste momento, segundo pesquisa oficial, também estão aumentando os preços de todos os tipos de produtos. Os economistas ouvidos pela Folha dizem que isto pode ser sinal de disseminação da alta do custo de vida.

Este é um dos problemas da inflação. Ela cresce porque parece que vai crescer. Eu explico: quando os produtores e comerciantes desconfiam de que a inflação vai subir tratam de aumentar os preços, para se proteger, e aí mesmo é que a inflação sobe. E então eles aumentam de novo os preços. E entramos numa viagem sem volta.

Viagem sem volta. A expressão poderia ser aplicada também ao segundo assunto assustador das manchetes desta segunda-feira.

Segundo informação oficial da Polícia Civil do Rio, três jovens moradores da Morro da Providência, no Centro, foram detidos por militares do Exército e vendidos a traficantes do Morro da Mineira, no Catumbi, que os executaram com dezenas de tiros e os despejaram no lixão de Gramacho, na Baixada.

O que o delegado da Quinta DP confirmou ontem, era apenas uma aterrorizante suspeita até o início do domingo.

O delegado afirma que 11 militares do Exército participaram do seqüestro e da entrega dos jovens para traficantes da facção rival da Providência, na Mineira: sete soldados, três sargentos e um oficial.

Os jornais descrevem com riqueza de detalhes apavorantes a mais grave notícia de envolvimento do Exército em crimes violentos desde o fim da ditadura militar.

Eis a manchete do Globo:

“Polícia acusa 11 militares de entregar jovens para o tráfico”.

O Extra:

“Juiza decreta prisão de 11 militares por morte de jovens”.

O Dia:

“Militares são acusados de vender jovens a traficantes”.

São páginas e páginas de uma cobertura necessária, e mais do que isto, fundamental.

A leitura provoca medo, pela constatação do nível a que chegou a cumplicidade com o crime em todas as instâncias de poder nesta cidade.

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