quarta-feira, 9 de julho de 2008

Dantas usou a imprensa, a imprensa silencia

Meu comentário de 9 e 30 na Rádio Mundial AM1180:

Não existe em jornalismo função mais importante que a de repórter. Os editores são necessários, os redadores são indispensáveis, mas o repórter é a essência e a alma do jornalismo. Jornal sem repórter não é jornal, é copiador de notícias velhas.

Sempre disse isto aos jovens que me procuraram em busca de emprego, quando era chefe, e aos alunos que tive quando fui professor universitário.

Mas sempre disse também que nenhum repórter sobrevive sem fontes. Fontes, no jargão do jornalismo, são as pessoas que podem passar informações exclusivas para os repórteres. Sejam importantes ou não, são gente bem informada. O repórter depende delas. Deve protegê-las, na medida do possível.

Mas não deve, jamais, se deixar usar por elas. Muitas fontes tentam manipular os repórteres, fazendo com que eles publiquem informações que lhes interessam mas que não são necessariamente verdadeiras.

Quando isto acontece, o repórter deixa de ser um profissional sério. Passa a ser um bobão, se estiver sendo manipulado sem saber. Ou um desonesto, se souber que está sendo usado pela fonte e não reagir a isto.

Este início um tanto professoral, que não é o meu estilo, serve para falar sobre um aspecto importante da prisão de Daniel Dantas que nenhum jornal explorou o suficiente.

Entre os crimes cometidos pela banqueiro para se dar bem estão escutas ilegais, suborno de funcionários públicos e – eis a parte que me interessa mais – “manipulação de veículos de imprensa, plantando notícias falsas sobre adversários e concorrentes”.

Aqui, o ouvinte que não é jornalista, é apresentado a mais um jargão: plantação de notícias. Significa a publicação de matérias, muitas vezes apenas notinhas de colunas, que só interessam à fonte e que têm o objetivo de prejudicar algum adversário ou de simplesmente se auto-elogiar.

Aquela crítica que parece gratuita ou exagerada e que geralmente não tem fonte pode ser uma nota plantada.

Os jornais de todo o país deram manchete às prisões de Daniel Dantas, Naji Nahas, Celso Pitta e mais 14 pessoas. Usaram páginas e mais páginas para contar tudo, em detalhes.

Esqueceram apenas de dedicar um texto sequer a essa denúncia da Polícia Federal de que Daniel Dantas manipulou veículos de comunicação.

A razão é simples. Jornalista gosta muito de fazer denúncias e acusações, menos quando as denúncias e acusações são contra colegas de profissão.

A gente ataca o corporativismo dos outros, mas se comporta mais ou menos do mesmo jeito.


É claro, como previmos aqui, que o caso do menino João Roberto, assassinado por dois PMs, perdeu espaço nas primeiras páginas. Mas continua sendo um assunto importante.

O garoto foi enterrado ontem, vestindo a roupa do Homem-Aranha que a mãe tinha comprado para dar-lhe de presente de aniversário, no fim do mês, quando faria quatro anos.

Diante do caixão, o pai gritou para quem quisesse ouvir e falou um pouco em nome de todos nós:

Assassinos!
Quem são estes animais?
Eu sou carioca, amo minha cidade, tiro meu sustento daqui.
Nós não merecemos isto!

Falou o que as autoridades precisam ouvir.

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