quinta-feira, 3 de julho de 2008

Ingrid e Yolanda: quem é a filha?

Meu comentário das 9 e 30 na Rádio Mundial AM1180:

A foto está nas capas dos jornais do mundo inteiro: duas mulheres de traços semelhantes, fortemente abraçadas, rostos colados, sorrisos abertos. Mãe e filha se reencontrando depois de seis anos de separação forçada.

Mas quem é a mãe e quem é a filha?

A beleza da foto não impede o desconforto: Ingrid Betancourt, a filha, tem apenas 46 anos, mas parece ter a mesma idade de Yolanda Pulécio, a mãe.

O sofrimento indescritível de 2.326 dias presa como refém dos terroristas das Farc, carregada de cativeiro em cativeiro no meio da floresta amazônica, quase sempre com mãos e pés acorrentados para não fugir, envelheceram uma mulher que, ao ser seqüestrada, em fevereiro de 2002, era uma linda jovem cheia de vida.

Ingrid estava viva, ontem, ao desembarcar em Bogotá e ser recebida por uma Colômbia em festa para ela. Talvez nem tenha adquirido alguma doença grave e, em pouco tempo, recupere-se completamente do martírio a que foi submetida.

Mas algo nos seus olhos e no rosto marcado denunciam que os terroristas roubaram uma parte fundamental da vida dela.

Ela chegou a escrever uma carta à mãe, quando ainda estava seqüestrada:

“Ele me tiraram tudo. Tento ficar silenciosa, falo o mínimo possível. Não tenho vontade de nada”.

Seis anos inteiros silenciosa, falando o mínimo possível, sem ter vontade de nada.

Ingrid precisou buscar forças sabe-se lá onde para suportar tanto sofrimento.Talvez na memória dos filhos, Lorenzo e Melanie, que viu pela última vez quando eram crianças e hoje já são adolescentes. Ou pelas lembranças do marido, Juan Carlos.

Se a foto que está nas capas de todos os jornais me fez pensar em como a violência dos terroristas roubou a juventude de Ingrid, as imagens das duas juntas, ontem, nas emissoras de tevê, provocaram sentimento diferente.

Ingrid e Yolanda não paravam de se beijar. Mãe e filha, finalmente juntas de novo, pareciam decididas a recuperar os beijos que deixaram de dar uma na outra durante seis anos. Ali mesmo, na frente da escada do avião, durante a cerimônia oficial em que os 15 reféns libertados foram apresentados ao mundo.

Beijavam-se sem parar, como provavelmente nunca tinham se beijado antes do seqüestro. Eis, talvez, uma lição mais importante do que as conclusões políticas que se pode tirar da vitória do presidente colombiano Álvaro Uribe, que resgatou Ingrid sem disparar um tiro, numa operação militar brilhante:

Gente que se ama deve se beijar sempre. Manifestar carinho, demonstrar sentimento. A gente nunca pode saber se um dia será tarde demais para fazer isto. A gente nunca pode saber se vai se arrepender, tarde demais, de ter beijado pouco a mãe, o pai, os filhos, aqueles que amamos.

Daqui a pouco falamos sobre a cobertura da libertação de Ingrid na web e sobre o colapso que o caso provocou na internet na Colômbia.



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