quarta-feira, 9 de julho de 2008

Melhor do que algema é condenação final

Em mil novecentos e noventa e tantos, não lembro mais quantos, escrevi um artigo em que criticava a Polícia Federal pelos exageros cinematográficos que adotava nas prisões de criminosos muito conhecidos. Questionava a necessidade do uso de algemas para prender suspeitos ou acusados que, no momento da detenção, não representavam nenhum risco para os agentes da polícia e tampouco manifestavam qualquer intenção de fugir.

Vivíamos, na época, o governo Fernando Henrique. Não era, portanto, a chamada PF do PT. Era apenas a PF, com os mesmos vícios exibicionistas de toda a organização policial.

É difícil negar que, dependendo do acusado, a imagem do sujeito algemado e tentando esconder o rosto ao ser levado para o camburão dá mesmo um certo prazer. Pode ser sádico, mas é verdadeiro. Não é menos verdade que, depois de assistir a tantas prisões de criminosos pés-de-chinelo, algemados e muitas vezes com marcas de bofetões, acabamos nos acostumando com a prática.

Mas é preciso que se diga, sempre. É tão truculento com o bandido pobre quanto será com o criminoso rico. Não importa a cor do colarinho. No estado democrático, no estado de direito, quem autoriza a polícia - federal ou não - a humilhar publicamente suspeitos e acusados?

O que nós temos direito de querer é um inquérito bem sustentado, que resulte na prisão dos acusados e na sua posterior condenação. Se for para fazer Daniel Dantas dividir um quarto da PF com Celso Pitta por duas ou três noites e soltá-los depois, sem a necessária competência para provar nos tribunais que eles são culpados e merecem uma pena definitiva, nos restará, ao final, apenas aquele prazer sádico que dura pouco e acaba em frustração.

As algemas no momento da prisão podem nos fazer sorrir. Mas o sorriso deles no momento da libertação ofenderá a todos nós.

2 comentários:

CFagundes disse...

Será que a campanha de serviço da PF vai sobreviver aos habeas corpus?

CFagundes disse...

habeas corpi?

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