quinta-feira, 3 de julho de 2008

Quando é história, a internet pára

Meu comentário das 11 e 30 na Rádio Mundial Am1180:

A internet entrou em pane ontem à tarde na Colômbia. Simplesmente parou de funcionar. Não era possível entrar em nenhum portal, site ou blog porque o país inteiro buscava informações sobre a libertação de Ingrid Betancourt e outros 14 reféns das Farc pelo Exército colombiano.

Este ainda é um problema da internet. Em grandes momentos, quando a história está acontecendo, não há espaço para todos.

A gente pode ouvir rádio, pode ver televisão, mas não consegue entrar na internet.

Aconteceu exatamente a mesma coisa em 11 de setembro de 2001, quando terroristas islâmicos derrubaram as torres gêmeas em Nova York.

Em momentos assim, a gente descobre como a internet ainda tem muito o que melhorar para se tornar realmente democrática e acessível a todos.

Hoje, na Colômbia, nos Estados Unidos, na França e mesmo no Brasil a libertação de Ingrid Betancourt é o principal assuntos dos blogueiros.

Não há apenas notícias e fatos. Há muita opinião, muito comentário, muita especulação.

Eu registrei algumas polêmicas importantes que tomaram conta dos blogs e devem chegar à imprensa nas edições dos jornais de amanhã.

1. Houve ou não participação direta de americanos na operação que libertou os reféns. Há quem afirme que toda a ação foi comandada por militares americanos ou agentes da CIA. O governo colombiano admite que obteve apoio americano no planejamento, mas nega que tenha entregue a outro país o controle das ações. Na Colômbia, a opinião geral é de que a operação – discreta e eficiente, sem disparar um tiro sequer – tem o estilo das ações de resgate do exército israelense. De fato, há mais de um ano o exército da Colômbia contratou especialistas israelenses em resgates para dar consultoria aos seus oficiais.

2. A libertação dos reféns, que pareceu tão fácil, foi mesmo verdadeira ou apenas uma simulação, já que a soltura dos seqüestrados estaria acertada, anteriormente, em negociações entre o governo da Colômbia e a direção das Farc?

3. Não pode ser coincidência que o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, John McCain, tenha visitado a Colômbia às vésperas da operação de libertação dos reféns. O governo americano, dizem os blogueiros que são contra Álvaro Uribe, deve ter sido avisado do resgate com antecedência. E mandou seu candidato até lá para faturar uns votos com a opinião pública do seu país.

4. Ingrid Betancourt, que foi seqüestrada há seis anos quando era candidata à presidência, desistirá da idéia de concorrer? Ela poderia ser uma forte candidata de oposição a Álvaro Uribe.

5. Na Colômbia, não parece haver dúvida de Álvaro Uribe é o grande vencedor deste episódio. O seu maior adversário político, o senador Gustavo Pedro, afirmou hoje ao jornal El Tiempo: “Uribe pode escolher entre dois caminhos – perpetuar-se no poder, porque não terá ninguém que lhe faça oposição, ou terminar seu segundo mandato e entrar para a história como o homem que venceu as Farc." Nos blogs de outros países, inclusive no Brasil, nem sempre Uribe aparece como vitorioso.

Ingrid Betancourt, que passou a noite em claro, na casa da mãe dela, contando à família como foram os seis anos de cativeiro, acaba de se encontrar com os filhos Lorenzo e Melanie, que chegam de Paris.

Foi tão emocionante quanto o reencontro dela com a mãe, ontem.

Até amanhã.

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