Dom Pedro II fazia questão de incluir o Brasil em todas as exposições universais. Não economizava para ver o país bem representado. Na exposição universal de 1889, em Paris, o Brasil fez sucesso, como mostra o trecho de uma reportagem da revista Guide Bleu, da época:
"Você quer se encontrar em vegetação fantástica? Aproxime-se do Paláicio do Brasil. (...) A decoração foi feita com seis estátuas representando os seis principais rios do Brasil, com as plantas e arbustos que crescem nas suas margens como atributos.
(...)
As amostras expostas têm um valor de mercado de aproximadamente 400 mil francos e o comitê fez um convênio com a Societé Internationale d'Horticulture de Bruxelles para a manutenção da estufa, onde, durante toda a duração da exposição, as orquídeas as mais raras estarão florindo, sendo substituídas quantas vezes for necessário. Um lago cuja água é mantida numa temperatura de 30 graus por intermédio de um sistema de aquecimento próprio contém a Victória Régia do Amazonas."
Isto aconteceu há exatos 119 anos. Vamos ler de novo: um século inteiro e mais 19 anos!
Este tempo todo depois, o Brasil passa por um vexame internacional na 60a Feira do livro de Frankfurt: os milhares de livros que seriam expostos no espaço alugado pelo Brasil não chegaram, ficaram retidos no porto de Madri. O Globo mostra hoje a cena patética, em fotos de prateleiras completamente vazias, com a feira já em pleno funcionamento.
Algumas editoras explicam a humilhação a que a imagem do Brasil está sendo submetida, afirmando que alguém, por engano, aplicou à carga um adesivo com os seguintes dizeres: "Perigo, material corrosivo".
Nem como metáfora faz sentido. Não existe o menor risco de que a literatura brasileira atual venha a ser considerada corrosiva. Muito menos tendo Paulo Coelho como seu principal representante na feira. Mas mesmo sem ele.
A citação da revista Guide Bleu eu retirei de um ótimo livro que acabo de ler, por razões profissionais, e que será lançado no mês que vem.
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