segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Zé Sérgio: viramos a casa da mãe Joana

Outro texto do Zé Sérgio sobre as eleições no Rio. O blog está à disposição de textos bem escritos. Se alguém quiser responder aos textos aqui publicados, sinta-se à vontade - desde que seja limpinho e educado. Como já disse anteriormente, qualquer visita é bem-vinda, se não monopolizar a conversa, não jogar cinza no tapete e não der em cima da mulher do dono da casa.

Para a vida inteira

Tadinho do Rio! Mesmo quando perdeu a sede do governo federal, continuou por muito tempo sendo chamada de capital cultural, caixa de ressonância do Brasil e coisa e tal. Mas foram tantos governos ridículos, medíocres, virtuais, desde então, que os cariocas foram reduzidos a garotinhos que têm que seguir as ordens supremas, a meros peões daquilo que os sabichões chamam de grande xadrez político nacional. Hoje só se fala de São Paulo. Quem ganhar em São Paulo, leva a Presidência ou quase isso. Algo como a frase do folclórico Gentil Cardoso: “Dêem-me o Ademir que eu lhes darei o campeonato”. O Fluminense atendeu seu treinador, tirou Ademir Menezes do Vasco e levou o título. Não vou explicar a piada.

Também Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia, entre outros estados, passaram a ter um papel muito mais importante do que o Rio. Em BH, o prefeito do PT e o governador do PSD...B peitaram as respectivas cúpulas partidárias, lançando um candidato biônico a prefeito e ficou por isso mesmo. Todo mundo sabe que isso é parte do “grande jogo político” para eleger o Pós-Lula. Trocando em miúdos: no xadrez eleitoral, não existe essa história de eixo Rio-São Paulo. É São Paulo-Minas, o café com leite agora em nova embalagem.

Já os cariocas são menosprezados. O Rio virou a casa da Mãe Joana. Quantas vezes, no passado recente, os melhores nomes do PT foram jogados para escanteio porque este era o desejo do Diretório Nacional? Chico Alencar, hoje no PSOL, e Vladimir Palmeira, ainda no PT, foram dois desses candidatos rifados pelos mestres enxadristas.

Sabem da última? Gabeira não pode ser eleito porque sua vitória significaria um avanço do projeto presidencial neoliberal tucano. Eu não sou inocente para garantir que isso não seja possível. Afinal, o vice do Gabeira é do PSDB.

O pior de tudo é que esse tipo de argumentação não encontra defensores somente no PT. Partidos tradicionalmente aliados, como o PcdoB, ou que surgiram das entranhas do petismo, como o PSOL, também entraram nessa onda.

O PCdoB carioca está proibido de apoiar o melhor nome para substituir sua eterna candidata Jandira pelo mesmo motivo. Vejam que coisa: o PCdoB paulista não quer isso. Sabem por quê? O vice da Marta Suplicy é o Aldo Rebelo, do PCdoB paulista. Os eleitores cariocas do PCdoB que se danem.

O PSOL, que pretende resgatar o que havia de melhor no PT (se não conseguir, vai ser um desastre, e se conseguir, vai ser um desastre ainda maior, pois vai crescer e também se “desvirtuar”), também participa do xadrez, meio como peru do jogo. O PSOL pensa que é neutro, mas não é. Seu candidato a prefeito, derrotado, Chico Alencar, continua excelente fazedor de trocadilhos e piadinhas sempre bem repercutidas nas melhores colunas. E a última é que o Gabeira é realmente um candidato ecológico, pois estaria livrando os tucanos da extinção. Que bela boutade! Vem cá, PSOL: quem diz que não tem candidato para votar, mas escolhe candidato para atacar, logicamente está apoiando o outro candidato, né não? A outra saída é ficar em cima do muro. Como os tucanos...

O que ainda resta de melhor no PT carioca, leia-se Vladimir Palmeira, também aderiu à campanha do candidato do governador Sergio Cabral e do presidente Lula, Eduardo Paes. Gabeira, o inimigo principal, é “acusado” de ter sido do PV, de ter entrado depois no PT, de ter saído do PT e agora de ter voltado ao PV. Já do Eduardo Paes, que já foi do PFL, do PTB, novamente do PFL, depois do PSDB e agora está no PMDB, tudo bem. Foram coisas da política. Pessoalmente, embora prefira o Gabeira, também simpatizo (de verdade) com o Eduardo Paes, mas sua história é recente demais. Não fez tantas bobagens na vida, fora circular por praticamente todos os partidos. O Gabeira me transmite confiança porque – outra acusação que lhe fazem – “pode ser um bom parlamentar, mas não tem preparo para ser prefeito”. Não sei onde já ouvi isso, que fulano não está preparado para ser presidente da República.

A diferença que vejo entre os dois candidatos foi belissimamente resumida, no debate entre os dois, pelos dois, cada qual falando de si próprio. Paes preparou-se quatro anos para ser o prefeito do Rio de Janeiro. Gabeira preparou-se a vida inteira para a vida inteira.
É alguém assim que o Rio de Janeiro merece. Chega de demanda. O Rio não tem que decidir o que é melhor para o Brasil do eixo São Paulo-Minas Gerais-Bahia-Pernambuco-Paraná e o escambau. Tem que decidir o que é melhor para o Rio de 2008. O Brasil de 2010 é outra conversa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Porra, virei título quaquaqua

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