terça-feira, 4 de novembro de 2008

O novo Itaú e o bolso da patuléia

Há nos jornais, pelo menos no Globo, indisfarçável euforia com a compra do Unibanco pelo Itaú. Faz sentido, é claro. Dois bancos brasileiros, associados, viram da noite para o dia uma empresa gigante, de dimensão global, em meio a uma crise que afeta especialmente o sistema financeiro no mundo todo.

Nem por isto O Globo precisava guardar para a sétima página das nove dedicadas à cobertura a notícia de que, "segundo analistas", o consumidor pode perder com a fusão, na forma de aumento de juros e de tarifas, uma vez que a concorrência diminuirá.

O Estadão explica melhor, nesta matéria de Renée Pereira:


A fusão de Itaú e Unibanco aumenta ainda mais a concentração do setor bancário brasileiro. Com a negociação, 74,3% (ou R$ 450 bilhões) de todo dinheiro depositado no sistema financeiro ficará nas mãos de cinco bancos: Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Santander e Caixa Econômica Federal. Juntos, eles também terão 72,9% dos ativos e 72,2% das operações de crédito, segundo levantamento da Austin Rating, com base nos balanços de junho.

A pesquisa mostra que, de dezembro de 1994 para cá, a participação dos cinco maiores bancos do País nos depósitos totais (à vista, a prazo, poupança e depósitos interbancários) cresceu 26,3 pontos porcentuais. No caso dos ativos, o aumento foi de 27,7 pontos e, no crédito, de 15,4 pontos.

Para alguns analistas, essa concentração pode dificultar a redução dos juros e das tarifas de serviços, prejudicando o consumidor, que teria menos opções no mercado. Outros acreditam que a fusão fortalece o setor e em algum momento isso seria revertido em benefício do consumidor.

"O negócio dá origem a uma instituição com mais escala e capacidade de competir no exterior", destaca Roberto Troster, sócio da Integral Trust e ex-economista da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Ele salienta ainda que é a primeira vez, em pelo menos 50 anos, que um banco privado assume a liderança do ranking no País. Até então o Banco do Brasil era o maior.

O professor da Universidade de São Paulo (USP), Alberto Borges Matias, diretor do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad), lembra que em 1994 o setor contava com 14 grandes bancos privados. "Até ontem, tínhamos 4 e agora temos 3", diz, referindo-se a Itaú Unibanco, Bradesco e Santander.

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