terça-feira, 16 de dezembro de 2008

É o fim

— O que tu vai fazer com esse sutiã aí, véio?

— Vou levar pra minha mãe. Esse eu peguei pra minha namorada.

Rápido diálogo entre dois soldados do Exército brasileiro, dentro do pavilhão onde é feita a triagem e distribuição de toneladas de donativos que chegam de todo o país para os flagelados das enchentes em Santa Catarina.

A cena foi filmada em magnífica reportagem da RBSTV de Florianópolis.

Pelo menos dez militares foram flagrados roubando donativos. Eles enchem mochilas com produtos de sua preferência e deixam o pavilhão alegremente. Antes, a reportagem mostrou voluntários civis - homens e mulheres - escolhendo as melhores roupas, tênis e alimentos que brasileiros solidários mandaram para as vítimas da tragédia. Um casal enche o porta-malas e o banco de trás do carro com donativos roubados.

O vídeo está no endereço http://www.clicrbs.com.br/rbstv/.

O roubo de donativos destinados a pessoas que perderam suas casas e tudo o que tinham é o desfecho perfeito do ano de 2008.

Um ano em que muito se falou em responsabilidade social e abdicou-se de vez de um outro conceito, mais importante: responsabilidade pessoal.

O país parece ter esquecido que por baixo do interesse coletivo campeia com liberdade a degradação do interesse individual. O primeiro sempre a serviço do segundo.

Um comentário:

Guido Cavalcante disse...

Saqueadores estiveram agindo em todos os acontecimentos trágicos da história e em todos os lugares do mundo. Exemplos: os soldados massacrados de Custer foram roubados dos soldos que guardavam nos bolsos, ainda intactos depois do pagamento antes da batalha. Não foram os índios, pois eles só levaram os escalpos:-) Outro exemplo: os moribundos da batalha de Waterloo chegaram a durar uma semana até todos morrerem. Nesse ínterim foram totalmente saqueados, inclusive dos uniformes. Entre os saqueadores estavam mulheres. Nossos soldadinhos e voluntários roubando donativos em SC apenas expõem um lado que julgamos não ter: a de um povo solidário e bondoso. Qual nada, somos um povo tão impiedoso e venal como qualquer outro.

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