quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Zé Sérgio virou blog (era só o que faltava)

O canalha do Zé Sérgio, em vez de ficar abastecendo este blog aqui com textos, como fez durante a campanha eleitoral, resolveu criar um blog só para ele. Cara de pau!

Em todo caso, eis o endereço:

http://quemevivo.blogspot.com/

Bem feito, como tudo o que o Zé fez no jornalismo.

E eis um dos primeiros textos, em que lamenta - como eu - o fechamento da Tribuna da Imprensa. Um jornal polêmico, envelhecido, desprezado pelos anunciantes, mas - caramba! - um jornal importante do Rio, onde centenas de jornalistas aprenderam o ofício e tiraram seu sustento.

(Amanhã, o blogdomarona conta como Hélio Fernandes foi o pivô da única demissão que sofreu na carreira, na Rádio Gaúcha).

Hoje, vamos com o blogueiro Zé Sérgio:

O último pé sujo da imprensa carioca

Não é de doer?

Se a Justiça é lenta, se o jornal é vítima de imperícia empresarial, se o endividamento ainda é fruto de décadas de perseguições odiosas, ou ainda se o gabarito certo é todas as respostas anteriores, sei lá... Não acompanhei essa batalha jurídica que se arrasta há anos. O que vejo é mais um jornal carioca que pode estar desaparecendo para sempre.No sobrado nº 98 da Rua do Lavradio trabalhavam cerca 90 pessoas, entre jornalistas, funcionários administrativos e gráficos, gente com 16, 18, 20 anos de casa. Agora, todos estão de férias. Férias coletivas. Liguei agora à tarde para a velha redação e foi a informação que obtive.

Fiquei sabendo também – e confirmei, lendo a versão on line – que leitores do Brasil inteiro não param de telefonar e enviar e-mails, alguns oferecendo ajuda financeira. Será difícil reerguer a quase sessentona “Tribuna da Imprensa”, criada em 1949 por Carlos Lacerda para servir de porta-voz da União Democrática Nacional.Sim, a “Tribuna” foi um dos pilares da direita brasileira na imprensa, mas é bom contar mais um pouco a respeito disso. O ódio que destilou contra Getúlio Vargas em 1954, com as manchetes escandalosas de Lacerda sobre o suposto “mar de lama” em torno do Palácio do Catete, fez parte da história do jornal. Da mesma forma, os virulentos ataques ao governo constitucional de João Goulart e o apoio dado à quartelada de 1º de abril de 1964. Se eu tivesse a idade do meu pai, provavelmente odiaria esse jornal até hoje.

Só que a “Tribuna da Imprensa” que minha geração guarda na memória era outra bem diferente. O apoio ao golpe durou pouco mais de uma semana. Logo que foi decretado o Ato Institucional nº 1, com as primeiras cassações e o fechamento do Congresso, o novo dono do jornal começou a espernear.

O jornal teve três proprietários. Lacerda vendeu o jornal em 1961 a Manuel Antônio do Nascimento Brito, genro da Condessa Pereira Carneiro, dona do “Jornal do Brasil”, pouco depois da renúncia de Jânio Quadros. Em março de 1962, Brito passou o título para o jornalista Hélio Fernandes.

Hélio Fernandes apoiou o golpe militar mas se arrependeu logo e não teve dúvidas de passar para a oposição. Polêmico, panfletário, de estilo inconfundível, Hélio Fernandes deu o tom da “Tribuna”. Eu era um garoto e, mesmo odiando a ditadura militar, fiquei pasmo com o violento editorial assinado por ele em agosto de 1967, no dia seguinte ao acidente aéreo que causou a morte do general Castelo Branco.

“Com a morte de Castelo Branco, a humanidade perdeu pouca coisa, ou melhor, não perdeu coisa alguma. Com o ex-presidente, desapareceu um homem frio, impiedoso, vingativo, implacável, desumano, calculista, ressentido, cruel, frustrado, sem grandeza, sem nobreza, seco por dentro e por fora, com um coração que era um verdadeiro deserto de Saara”.

Juro que cheguei a sentir pena do general que comandou o golpe de 1º de abril. Li o jornal de manhã e, se não me engano, os exemplares foram recolhidos à tarde.

Hélio Fernandes ficou preso alguns meses, mas retomou seu posto. A “Tribuna da Imprensa” voltaria a dar suas bordoadas no regime, a ponto de – como o mundo dá voltas! – ter sido alvo de atentados a bomba praticados pela extrema-direita.

E agora isso! Uma história chegando ao fim.

Numa rua tomada por antiquários, casas de show e bares que assumem o nefando rótulo de pés-limpos, o sobrado nº 98 da Lavradio é o último pé-sujo do jornalismo carioca. Um pé-sujo autêntico que merece respeito pela história, com diferentes versões, que contou nos últimos 59 anos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Valeu, Marona! Mas não pense que ficou livre dos meus comentários. Aguardo tua história com o Hélio amanhã.

Stefano di Pastena disse...

Parabéns ao novo blogueiro.

Sobre a Tribuna, é mesmo uma pena...Mas ainda bem que o Hélio Fernandes não se vendeu como os asquerosos Ziraldo e Jaguar, os bolsitas miliardários de Lula.

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