quarta-feira, 15 de abril de 2009

E24 X Profissão Repórter: vitória da Band

Globo e Band puseram no ar no mesmo horário, na noite de quarta-feira, programas jornalísticos com algumas semelhanças:
  • ambos adotam linguagem diferente do telejornalismo tradicional praticado no Brasil,
  • ambos se esforçam por abordar com alguma profundidade, coisa rara em televisão, a vida das pessoas escolhidas como protagonistas,
  • ambos, além disso, têm um estilo de reality show.

No entanto, se têm analogias importantes, E24 (Emergência 24 horas), da Band, e Profissão Repórter, da Globo, distanciam-se num aspecto fundamental: o primeiro é muito bom, o segundo é sofrível.

E24 é uma lição de telejornalismo.

Profissão Repórter é uma síntese dos piores defeitos do telejornalismo brasileiro.

O programa da Band, feito pela produtora Quatro Cabezas, segundo formato adotado em outros países latinos, poupa o telespectador do superficial, do dispensável, da frivolidade típica da televisão. Os personagens predominam. Agem, correm, se estressam, desabafam, se emocionam, choram - e fazem tudo isto com uma naturalidade que dispensa a presença física do repórter. A reportagem está lá, o tempo inteiro, em cada take. O repórter, não. Não há contraplanos, não há passagens. A produção não interfere na cena. O que se vê na tela é documentário em estado puro, sem artificialismos.

Profissão Repórter é o oposto. Os repórteres SÃO o programa. A importância da reportagem parece ser medida pela quantidade de vezes que o repórter terá oportunidade de aparecer. Nele, quem mais fala, ri, se emociona e participa é o repórter. O jornalista é o dono da cena. Há lugar até para metalinguagem: o repórter rouba o tempo do entrevistado e, na cena seguinte, tem o seu tempo roubado pelo diretor, Caco Barcellos. Em casa, somos obrigados a assistir à bronca quase constrangida do "professor Caco" no jovem repórter que, segundo o site do programa, tem como qualidade importante no currículo o fato de ser ator. Deve ser por isso que ele ria mais do que o Carlos Nascimento lendo notícia ruim.

A Globo já proibiu a presença de repórter dentro de salas de cirurgia. Nos velhos tempos, passagem gravada em locais que exigem perfeita assepsia era considerada invasiva, exagerada, desnecessária.

Esta época já passou.

O exibicionismo venceu.

Um diretor maluco da Globo já quis mandar o helicóptero da empresa para salvar um suicida. Foi demitido, duas vezes.

Hoje, seria promovido por botar no ar a reportagem perfeita: com âncora, repórter e nenhuma fonte de informação.

5 comentários:

Diogo disse...

Muito boa análise.

Perfeita.

Stefano di Pastena disse...

Excelente, Marona.

Ricardo Santos de Almeida disse...

É terça que passa o E 24, não quarta.

Raphael (raphaelcosta007@gmail.com) disse...

Discordo.

A diferença é que E24 é sensacionalismo e Profissão Repórter é sensacional.

O E24 é baseado no sangue e na exposição gratuita de corpos machucados para gerar audiência fácil. Não era de se esperar algo diferente de uma emissora que produz o Brasil Urgente.

O Profissão Reportér é um formato nacional com outra concepção, em especial menos tendenciosa que o E24.

Anônimo disse...

Mas tem cada repórter gatinha...

Postar um comentário