Causou grande irritação nos jornais a decisão da Petrobras de criar um blog por meio do qual se defende das denúncias publicadas na imprensa.
Em janeiro de 2006, este blog que vos fala publicou post, reproduzido abaixo, sobre hábito semelhante que começara a ser adotado nos Estados Unidos.
Não tratava, especificamente, de uma batalha de informação entre a imprensa e uma empresa.
Mas chamava atenção para um recurso novo que a internet punha à disposição das fontes de qualquer espécie.
E. ao final, sugeria uma reação à midia.
Terça-feira, 3 de Janeiro de 2006
A vingança das fontes
Fontes de notícias e reportagens da mídia americana começam a publicar suas próprias entrevistas em blogs e sites na internet para reagir a manipulações e erros de e interpretação de repórteres e editores. Matéria do New York Times, reproduzida na edição de hoje do Estadão, revela que se tornou hábito entre muitas fontes gravar entrevistas e ligações telefônicas e salvar trocas de email com jornalistas.
A equipe do telejornal Nightline, da ABC News, foi alvo desta atitude. A rede transmitiu uma reportagem sobre a defesa do creacionismo e incluiu entrevista com uma organização que defende a teoria, o Discovery Institute. No entanto, reproduziu apenas uma poucas frases dos entrevistados. No dia seguinte, o grupo postou em seu site na internet a íntegra da entrevista, antecedida da observação:
"Aqui esta sua chance de penetrar nos bastidores da mídia nacional para ver como eles fazem uma triagem dos pontos de vista e informações que não se encaixam nos seus estereótipos".
O blogueiro e professor de jornalismo Jay Rosen interpreta esta novidade como uma mudança importante na relação entre fonte e receptor.
— Nesse novo mundo, o público e as fontes são também publicadores. Eles agora dizem aos jornalistas: nós também somos produtores de informação. Portanto, a entrevista fica no meio, entre nós. Vocês produzem coisas a partir dela e nós também. De agora em diante, numa situação de entrevista potencialmente hostil, esta será a norma.
Até mesmo o repórter do Nightiline cuja entrevista com os creacionistas foi publicada no site deles, na íntegra, compreende o novo desafio:
— Na medida em que você sabe que existe alguém monitorando cada palavra, isso provavelmente o impele a ser ainda mais cuidadoso, o que é uma coisa boa — disse Chris Bury.
A melhor resposta da mídia a esta "vingança das fontes" seria, ela própria, tomar providências para que as entrevistas sejam integralmente reproduzidas, se não nos jornais e nas emissoras, pelo menos em seus sites na internet.
3 comentários:
Marona, essa iniciativa do bando que se apossou da petrobras é de intimidação, tentativa de forçar a imprensa a publicar tudo o que o governo queira e quebrar a mais básica relação de confiança entre assessores e repórteres. Quem faz isso não é jornalista, é moleque. Só que, no caso, um bando de moleques bancados por (muito) dinheiro estatal.
Qualquer assessor que faz um troço desses se queima, mas quem é bancado pelo país dentro do país não se importa com isso.
A petrobras ressalta sua autodeclarada transparência sabotando ineditismo de reportagens, vazando-as ao "público" ao mesmo tempo em que impede o acesso de qualquer que não seja jornalista (com empresa declarada e até CPF!) para saber quem são as pessoas que trabalham em sua gerência institucional. É tão transparente quanto petróleo; por que também não se antecipou à imprensa para dizer que tem 1.150 profissionais de comunicação (muito mais do que qualquer empresa de comunicação das grandes), que deu dinheiro paara "ONG" de diretor e R$ 3,5 milhões para MST e Contag, sob a desculpa de um projeto de mamona que nunca produziu um mililitro de biodiesel?
Não tenho a menor dúvida de que há irregularidades na relação da Petrobras com parte de seus patrocinados. Quem lê meu blog sabe o que eu penso de patrocinios culturais. Mas não entendo o motivo pelo qual uma empresa - privada ou estatal - não possa ter um blog e publicar neste blog o que bem entender - submetida, é claro, aos preceitos da lei.
Por que a empresa - privada ou estatal - deveria se satisfazer apenas com o "erramos" do pé da página de cartas de leitores ou com o "outro lado" de 10 cm para uma reportagem de página inteira?
O uso do blog como mídia para releases e notas em defesa de empresas e estatais me parece tão legitimo quanto sua utilização para denúncias contra essas empresas e estatais.
João, existe uma "básica relação de confiança entre assessores e repórteres"? Na minha opinião, essa relação baseia-se sempre num conflito. Cada um defende seu lado. Acredito que a Petrobrás tenha sido plenamente legítima na sua decisão (publicação do outro lado - fonte - no blog). Só que a atitude realmente fere a possibilidade de furo no jornalismo. Acho que essa medida não deve ser levada muito adiante.. serviu para diluir o assunto da CPI.
abraços
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