terça-feira, 18 de abril de 2006

Quando a câmera escondida é útil

Escrevi ontem que só concordo com o uso de câmeras e microfones escondidos em casos "especialíssimos" e um freqüentador deste blog fez a pergunta óbvia: o que é especialíssimo? Até porque o que para um editor pode ser um caso relevante, para outro pode ser banal e desnecessário.

Aprendi com Evandro Carlos de Andrade, meu chefe durante 18 anos no Globo e na TV Globo, que existe um critério a ser seguido: um repórter tem o direito de apurar informações de maneira clandestina apenas se o mal que ele pode impedir com a matéria que resultar deste recurso for bem maior do que o mal que ele pode causar à vítima da espionagem. Continua relativo, é claro, mas já estabelece uma graduação e uma medida. Para mim, pelo menos, ficou claro o suficiente para adotar como regra no período em que fui editor-chefe do Jornal Nacional. Cito alguns exemplos daquela época:


  • A Globo de São Paulo obteve a gravação, com câmera escondida, das violências cometidas por PMs contra moradores da Favela Naval e o JN não teve nenhuma dúvida de que deveria botá-las no ar. Cenas semelhantes ocorreram na Cidade de Deus, no Rio, e também foram mostradas.
  • Foram exibidas com grande destaque, em forma de série, imagens que mostravam militares brasileiros - entre os quais vários oficiais da Marinha - usando navios de guerra para trazer grande quantidade de contrabando para o país.
  • Da mesma forma, o JN mostrou imagens, obtidas clandestinamente, da ação de uma quadrilha que contrabandeava e vendia a traficantes fuzis, metralhadoras e outras armas pesadas.

Nem todos os casos são assim tão fáceis de analisar. Tenho convicção, por exemplo, de que era desnecessário plantar um microfone na sala da delegacia de polícia em que o jornalista Pimenta Neves, assassino da namorada, prestava o primeiro depoimento. O crime já havia sido cometido, nada de mal poderia ser impedido com aquela matéria. Mas há quem defenda aquela situação.

3 comentários:

Anônimo disse...

Marona,

diariamente abro o blog esperando o comentário sobre as reformas gráficas do Dia e do JB. Você vai fazê-lo?

Anônimo disse...

Bom te ver, guri. Estava procurando referências ao meu livro e surpreendi um comentário teu sobre o caso. Me encontras no http://maisgaropaba.spaces.live.br . Como vais?

Anônimo disse...

Não era para ser anônimo no caso da favela Naval. Sérgio Saraiva fez o comentário.

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