segunda-feira, 11 de setembro de 2006

Médicos viram jornalistas: ainda bem

Um dos melhores jornalistas com quem trabalhei é médico: havia muito folclore típico de redação em torno de Carlos Fehlberg. Dizia-se que ele carregava sanduiches no bolso traseiro da calça e que, um ou dois dias depois de casar, trancou a mulher no apartamento para atender a um chamado urgente da redação. Não sei se essas histórias são verdadeiras ou não. Seria bom que fossem. Mas o que lembro muito bem é que nunca vi um chefe de redação tão obsessivamente preocupado com o seu trabalho.

Fehlberg é médico e uma pesquisa que está sendo divulgada hoje pela Folha, feita por um instituto denominado Observatório Universitário, mostra que apenas 27% dos jornalistas formados nas universidades exercem de fato a profissão. Há mais gerentes de apoio e de produção formados em comunicação do que jornalistas em redações com o mesmo curso.

A pesquisa, feita com base nos dados do censo do IBGE, revela que 53% dos formandos nos 41 cursos examinados atuam em áreas profissionais diferentes daquelas para as quais se prepararam.

A medicina é uma exceção: 84% dos médicos formados se tornaram, de fato, médicos, o que faz da opção de Fehlberg um lance de sorte para o jornalismo.

O número de formados em administração trabalhando como vendedores de lojas é quase igual ao de administradores de empresas.

Os autores da pesquisa interpretam os resultados:

— O Brasil oferece uma educação secundária de péssima qualidade e uma educação profissional muito precoce, o que faz com que nossos filhos tenham sua vida de estudantes pautada pelo vestibular. Meninos de 16 anos têm que decidir se vão ser médicos, dentistas ou advogados.

E defendem uma idéia revolucionária:

— O principal objetivo da educação superior deve ser preparar pessoas competentes e com formação sólida o suficiente para dominar linguagens que as permitam, posteriormente, aprender qualquer profissão. O grosso das profissões no setor terciário se aprende em um ano e meio ou dois. Grande parte poderia ser aprendida em ciclos de pós-graduação curtos, depois que o estudante tivesse uma formação sólida.

2 comentários:

Anônimo disse...

Acho, sinceramente, que qualquer profissional bem formado pode ser jornalista. Aliás jornalista especializado. Mas o contrário seria um desastre, apesar de jornalista querer meter opinião em tudo.

Roberta disse...

Essa pesquisa é desanimadora para jornalistas recém-formados como eu que continuam na luta.Acho que uma pequena culpa que contribui para essa alarmante estatística é o grande número de instituições que abrem a cada esquina, lembrando o programa de "Farmácia Popular".
Não concordo com o que o Marcus disse. Para ser um bom jornalista não é necessário apenas ser bem informado; é preciso que se escreva bem, tenha feeling.
Beijos.

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