Na minha terra era comum uma expressão gaiata para demonstrar que você está feliz com a partida de alguém. É mais ou menos assim: O sujeito se levanta da poltrona e o anfitrião pergunta alto "já vai?", para acrescentar em seguida, bem baixinho, um "graças a Deus!" A versão completa inclui ainda, logo depois, um "fica mais um pouco" em voz alta, seguido de um "Deus me livre" em forma de sussurro. Coisa de gaúcho. O mais conhecido é o universal "já vai tarde" pronunciado com alívio logo depois que a visita chata se retira.
Quando Pinochet morreu eu era editor-chefe do JB e me deparei com uma foto de meia dúzia de chilenos comemorando com champanhe. Não era muita gente, é verdade, mas servia para aquilo que chamávamos por lá de "manchete de intervenção", aquela em que o que menos importa é a informação, que, afinal, já será conhecida quando o jornal estiver circulando. Deve funcionar como a exclamação e o desabafo que muitos leitores fariam ao tomar conhecimento da notícia.
O ex-ditador chileno fazia por merecer um gritado "já vai tarde", em corpo 130. Enquanto submetia a idéia insólita ao diretor de conteúdo Amauri Melo, louco o suficiente para aprová-la com entusiasmo, o Nelinho, melhor diagramador de primeira página com quem já trabalhei, resolvia graficamente o problema e ainda sugeria a lembrança de que, por ação da censura, o JB não pôde dar manchete ao golpe de Pinochet que derrubou Allende, em 1973. Isto, e mais a oportuna foto de Pinochet com Fidel, para mostrar que não celebraríamos apenas o ocaso de um tirano de direita, fechava uma capa agressiva e nem por isso mal-humorada.
A reação no dia seguinte foi forte. Conservadores e esquerdistas entupiram minha caixa de email. Os primeiros, indignados, cobravam atitude idêntica quando da morte - então esperada - de Fidel. Os leitores de esquerda rasgavam elogios. O dono do jornal, cobrado pelos amigos, quase todos conservadores, reagiu mal de manhã cedo e acabou se acalmando ao longo do dia (como acontece muitas vezes com os donos de jornal em situações equivalentes).
A morte anunciada do ditador cubano não aconteceu e só agora, mais de um ano depois, Fidel afastou-se do cargo. Como eu caí antes do Fidel, não pude fazer a capa que planejava para ele. A Veja, no entantou, repetiu o título do JB. É claro que não se trata de plágio - a expressão "já vai tarde" ainda servirá para muita gente. É tão boa para Pinochet quanto para Fidel. Provavelmente será perfeita para Hugo Chavez, sabe-se lá quando. Só não vale fazer a mesma manchete e espalhar por aí que inventou a brincadeira.
Quando Pinochet morreu eu era editor-chefe do JB e me deparei com uma foto de meia dúzia de chilenos comemorando com champanhe. Não era muita gente, é verdade, mas servia para aquilo que chamávamos por lá de "manchete de intervenção", aquela em que o que menos importa é a informação, que, afinal, já será conhecida quando o jornal estiver circulando. Deve funcionar como a exclamação e o desabafo que muitos leitores fariam ao tomar conhecimento da notícia.
O ex-ditador chileno fazia por merecer um gritado "já vai tarde", em corpo 130. Enquanto submetia a idéia insólita ao diretor de conteúdo Amauri Melo, louco o suficiente para aprová-la com entusiasmo, o Nelinho, melhor diagramador de primeira página com quem já trabalhei, resolvia graficamente o problema e ainda sugeria a lembrança de que, por ação da censura, o JB não pôde dar manchete ao golpe de Pinochet que derrubou Allende, em 1973. Isto, e mais a oportuna foto de Pinochet com Fidel, para mostrar que não celebraríamos apenas o ocaso de um tirano de direita, fechava uma capa agressiva e nem por isso mal-humorada.
A reação no dia seguinte foi forte. Conservadores e esquerdistas entupiram minha caixa de email. Os primeiros, indignados, cobravam atitude idêntica quando da morte - então esperada - de Fidel. Os leitores de esquerda rasgavam elogios. O dono do jornal, cobrado pelos amigos, quase todos conservadores, reagiu mal de manhã cedo e acabou se acalmando ao longo do dia (como acontece muitas vezes com os donos de jornal em situações equivalentes).
A morte anunciada do ditador cubano não aconteceu e só agora, mais de um ano depois, Fidel afastou-se do cargo. Como eu caí antes do Fidel, não pude fazer a capa que planejava para ele. A Veja, no entantou, repetiu o título do JB. É claro que não se trata de plágio - a expressão "já vai tarde" ainda servirá para muita gente. É tão boa para Pinochet quanto para Fidel. Provavelmente será perfeita para Hugo Chavez, sabe-se lá quando. Só não vale fazer a mesma manchete e espalhar por aí que inventou a brincadeira.
Um comentário:
Tio Marona (o "tio" é só para sacanear mesmo),
calça de veludo ou bunda de fora: ou pára de escrever ou poste com mais frequência. Na verdade, por favor, atualize mais. Entro no blog todos os dias e estou cansado da frustração de não encontrar nada. O pior é que as poucas aparições me farão voltar amanhã. Você é bem mais lido do que imagina.
Saudações Rubru-Negras.
Um grande abraço do Mascarenhas
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