domingo, 2 de março de 2008

Inteligência no Globo de domingo

Confesso que costumo atravessar com enfado reportagens que resolvem, como se diz, "resgatar" momentos da história da ditadura militar brasileira ou dos regimes tirânicos do Cone Sul. São, quase sempre, chatas, maniqueístas e quase nada acrescentam à lógica já conhecida daqueles tempos - os ditadores malvados contra os resistentes bonzinhos. O Globo repete uma dessas banalidades neste domingo, quando promete contar novidades sobre o seqüestro do cônsul brasileiro em Montevidéo pelos Tupamaros durante a ditadura uruguaia. Promete e não cumpre.

Mas, em compensação, publica esplêndida reportagem de José Casado, com Ascânio Seleme e Luiz Paulo Horta, sobre a ajuda que o Cardeal Dom Eugênio Sales prestou a refugiados políticos dos regimes militares do Cone Sul entre 76 e 82. Por que esta é diferente daquela? Porque é original, foge ao maniqueísmo e oferece ao leitor impressão diferente sobre um personagem importante. Que Dom Eugênio sempre foi um padre conservador e ferrenho anticomunista todos sabíamos. Que ele tenha sido um sacerdote capaz de gestos de grandeza como a proteção de perseguidos políticos é a novidade importante que faz desta matéria a melhor leitura do domingo.

Não é apenas Dom Eugênio que sai engrandecido da história contada pelo Globo. A humanidade sobe alguns degraus na escala da civilização e o jornalismo ganha em inteligência.

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