sexta-feira, 18 de abril de 2008

O caso Cabrini, sem hipocrosia

Os colegas jornalistas fogem do assunto Roberto Cabrini como o diabo foge da cruz, sem trocadilho com a nova emissora dele. Fogem porque entendem que só há duas hipóteses: condená-lo ou absolvê-lo em princípio.

Trabalhei com Cabrini na Globo, quando fui editor-chefe do Jornal Nacional. Não posso me queixar, de maneira alguma. Ele fez ótimas reportagens e nunca me deu trabalho. Sempre me pareceu um tanto obcecado ou, vá lá, obstinado demais. Não parecia pensar em outra coisa na vida além de suas matérias, mas isto não é defeito em televisão. Os chefes gostam.

O episódio em que acabou envolvido e que resultou na sua detenção, seja uma armação ou não, é previsivel no tipo de jornalismo pelo qual ele acabou enveredando. Um tipo de jornalismo que, quando queremos elogiar, chamamos de investigativo e, quando queremos criticar, chamamos de sensacionalista.

Confesso que desconfio do jornalismo investigativo. O adjetivo costuma envolver trabalho sério de apuração, grossa picaretagem, lassidão ética e, não raras vezes, risco desnecessário, como o que levou à morte de Tim Lopes. A gente nunca sabe direito se está diante de jornalismo ou de abuso.

A outra hipótese para a detenção de Cabrini é a mais dolorosa, pessoalmente. Ele poderia, como muitos jornalistas - ou profissionais de outros ramos - ser usuário de drogas. Que jornalista desconhece o fato de que muita gente consome drogas nos banheiros das redações ou no escurinho das ilhas de edição? Seria hipócrita negar. Trata-se, neste caso, de escolha pessoal.

Mas não podemos esquecer: consumir cocaína em casa ou numa ilha de edição é uma coisa, comprar cocaína numa favela é outra, passível de ação policial, maliciosa ou não, pouco importa, porque o resultado final é sempre o mesmo: escândalo, humilhação, constrangimento. Seja para um jornalista, seja para um cidadão qualquer.

Não me interessa se o Cabrini comprou cocaína numa favela. O problema é dele. O risco também. Não me agrada, porém, que ele mantenha com as fontes de suas reportagens investigativas relações tão próximas, íntimas, insólitas, a ponto de poder ser chantageado por elas. Neste caso, estamos falando de um tipo de jornalismo que considero perigoso e condenável.

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