sábado, 31 de maio de 2008

Como mentir e incendiar o mundo

Este é o post mais longo que eu já escrevi aqui. Mas, para quem tiver paciência, vale a pena ler até o final. Estamos diante de uma dolorosa lição sobre o nível de degradação a que pode chegar certo tipo de jornalismo.

Na verdade, são dois textos e um vídeo, capturado do Youtube, que devem ser vistos na ordem em que aparecem aqui na tela, para preservar a lógica da narração.

O tribunal de recursos da França prolatou sentença esta semana em que inocenta da acusação de difamação o jornalista Philippe Karsenty, responsável por uma ONG de avaliação da mídia. Ele foi processado pelo canal France 2, ao qual acusara de montar uma farsa para fazer crer que um menino havia sido brutalmente assassinado pelo exército de Israel durante conflito na Faixa de Gaza, em 2000.

Condenado em primeira instância, Karsenty recorreu e exigiu que a emissora exibisse no tribunal da íntegra das imagens que haviam sido editadas. Diante do material completo, o tribunal de recursos entendeu que houve mesmo manipulação.

As imagens divulgadas pela France 2 em 23 de setembro de 2000 tornaram-se um ícone que percorreu o mundo e provocou comoção. Mostram pai e filho encurralados junto a um muro e atrás de um barril de concreto, mesmo assim sendo alvos de forte tiroteio das tropas israelenses.

O pai gritava, implorava para que parassem de atirar, tentava proteger o filho. Inutilmente. A última cena exibida mostra o pai, prostrado, e o filho deitado ao seu lado, morto, segundo a reportagem.

As imagens foram feitas pelo cinegrafista da France 2, Talal Abu Rahme, que as enviou ao correspondente da tevê no Oriente Médio, Charles Enderlin, um dos mais respeitados jornalistas internacionais da Europa.

Exibidas pela France 2 e reproduzidas por praticamente todas as emissoras do mundo, acabaram por desmoralizar Israel, que praticamente admitiu a possibilidade de ter cometido o crime, e deu enorme força política e moral aos palestinos, marcando o início do que veio a ser conhecido como a Segunda Intifada.

No próximo post, um um texto traduzido do inglês faz um resumo do vídeo feito a partir das dúvidas levantadas pela ONG de Philippe Karsenty. O vídeo completo aparece no terceiro post, e será mais facilmente entendido depois da leitura do post que o antecede.

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