Este é o resumo do vídeo que será exibido logo abaixo. Não é uma tradução completa e tampouco sempre literal. A intenção é destacar os momentos mais importantes e tornar mais fácil de entender a tese de que a matéria da France 2 era uma farsa.
Charles Enderlin é correspondente do canal France 2 no Oriente Médio. Para franceses e israelenses, ele é um jornalista altamente respeitado na Europa.
No dia 23 de setembro de 2000, Enderlin esteve em Ramallah com seu câmera, Talal Abu Rahme, cobrindo um confronto entre palestinos e israelenses na Faixa de Gaza. No meio do fogo cruzado, o cinegrafista fixou a imagem de um pai tentando proteger o filho atrás de um barril.
Naquela noite, Enderlin recebeu o material de Talal junto com uma terrível narrativa. De acordo com Talal, pai e filho foram encurralados de repente pelos tiros que vinham de todas as direções. Então foram encurralados atrás do barril pelos disparos israelenses por mais de 40 minutos.
O garoto gritava, o pai tentava protegê-lo, mas eles foram abatidos, Talal insistia, pelo exército israelense, a sangue frio. Os israelenses ainda teriam atirado numa ambulância, impedindo que o garoto fosse resgatado. Quanto do material disponível, gravado naquele dia por Talal e dois outros câmeras palestinos que também estiveram no local, confirma essa narrativa? Vamos examinar...
Repórter: Quantos minutos você filmou?
Talal: Uns seis
Repórter: E por que escolheu todo o material da parede...
Talal: (interrompendo): Não, não, não. Eu apenas fiz do início do tiroteio até o fim.
Tudo o que Talal gravou aquele dia foram 3 minutos de cenas de fuga e apenas 29 segundos que mostram pai e filho sob o tiroteio. E, apesar disso, cada segundo dessa filmagem teria sido mais valioso que qualquer coisa que qualquer um tivesse filmado aquele dia na Faixa de Gaza.
Talal: Eu sou o juiz. Eu escolho o que é importante. É como jogar pedras. Eu não pergunto porque estão jogando as pedras, eu apenas filmo.
Por que tão pouco tempo de filme? Por que tão fora de foco? Por que closes tão limitados? Por que apenas Talal aproveitou a cena?
Dois outros câmeras pegaram a cena. Eles se esconderam bem atrás do barril onde pai e filho tentariam se proteger das balas. As imagens de um deles mostram seu colega com a câmera ligada logo atrás da perna da criança, que, aliás, está se mexendo. Um outro homem chega se refugiar ali, justo quando o tiroteio supostamente estaria no auge. Mas diferentemente de pai e filho, o homem e os dois câmeras estariam exatamente na linha de tiro israelense. Se o garoto e o pai estivessem mesmo encurralados, por que mais dois homens viriam juntar-se a eles?
As imagens capturadas por um dos cinegrafistas que estavam imediatamente atrás do garoto mostram (03:20 min) alguém movendo a pedra acima do barril e o pai conversando com o filho.
Se a cena fosse tão terrível quanto a reportada por Talal, por que nenhum desses câmeras, bem no foco da cena, pegou qualquer seqüência desses 40 minutos de tiroteio?
Talal: Eles continuaram atirando nele. Acreditem em mim. Eles continuaram atirando nele.
Quando ouvimos o som das demais gravações, sabendo que pai e filho estão encurralados atrás de um barril, nós ouvimos as metralhadoras, mas também longos períodos de silêncio.
Talal: Nos primeiros cinco minutos, era tiro para todo lado. Mas depois disso, não. Era só na direção deles. Da direção atrás de mim.
Da direção atrás dele? Atrás de Talal havia uma tropa palestina, não israelense. Poderiam os palestinos estar atirando na direção do garoto? Imagens mostram o lado israelense, ouvem-se tiros, mas não há evidência alguma de um ataque frontal. Aliás, mesmo quando se ouvem tiros e vemos palestinos correndo para se protegerem, há pessoas em pé bem na mira da tropa israelense, sem demonstrar medo.
Finalmente, quando voltamos à cena central, podemos ver apenas duas balas na parede acima da cabeça dos dois supostamente encurralados pelo exército israelense. Mas nenhuma bala no barril. Pelas marcas na parede, pode-se ter certeza de que nenhuma dessas balas vem do lado israelense. Pelo ângulo de onde estava o exército israelense, os tiros levantariam uma grossa nuvem de poeira inclinada para o lado oposto à origem das balas. Enquanto que tiros frontais, ou seja, do lado palestino, formariam a mesma nuvem, só que vertical, como o tipo que aparece na cena gravada.
Numa gravação feita pouco antes da cena antológica, é possível ver vários palestinos entre o barril e a junta israelense. Muitas pessoas também saíam o local correndo, deixando pai e filho para trás. Por que todas essas pessoas iriam embora e não eles? Estariam fugindo ou limpando o cenário?
Talal: O garoto estava sangrando, por mais de 15, 20 minutos.
Se ele sangrou por 20 minutos, pelo que o hospital diagnosticou como uma ferida aberta no estômago, por que Talal filmou apenas 28 segundos mais, com nenhum sinal do sangramento que se esperaria ver em tal situação?
Talal: Nunca vi um tiroteio como esse. Por 45 minutos eles atiraram no garoto.
Se isso fosse verdade, deveria haver centenas, senão milhares de buracos de bala no muro. Onde estão os buracos? A France 2 os recolheu também? E por que os buracos visíveis são circulares e não elípticos, como se poderia esperar se eles viessem do lado israelense?
Aqueles que tiveram acesso ao local no dia seguinte sabem que no lugar onde, supostamente, o menino fora atingido não havia nenhum sinal de sangue logo pela manhã. Mas ao meio-dia, quando as emissoras estrangeiras apareceram, havia uma camada grossa de sangue para eles fotografarem. E, ainda assim, não estava posicionada nem mesmo onde o estômago do garoto deveria estar, sangrando por 20 minutos.
Talal: Eu vi o garoto deitar sobre o colo do pai, e o pai ficando tonto assim. Naquele minuto, eu tinha certeza de que o menino havia sido morto. Eu estava gritando “o garoto está morto!”
Talal pode até se lembrar dessa forma, mas, na realidade, ele estava gritando “o garoto está morto” muito antes do momento em que, supostamente, teria sido atingido.
A última tomada do garoto e do pai não foi incluída pelo canal francês no material que foi ao ar. O menino já havia sido dado como morto na cena anterior. Na cena seguinte, o pai dá as costas ao filho e o menino ainda mantém a mão sobre os olhos eem vez de pô-las sobre o ferimento no estômago, o que seria instintivo.
Estaria o garoto assassinado se mexendo? Charles Enderlin, o repórter que não estava no local, alega que cortou esta cena porque mostrava os últimos espasmos do garoto, e seria muito doloroso para a audiência ver isso. Mas seriam mesmo os últimos espasmos ou o menino afastando o braço para espiar a câmera, como é possível ver? Teria a cena sido cortada para poupar a audiência da dor ou para poupar a France 2 de perguntas constrangedoras?
Curiosamente, nenhuma bala foi recuperada. Tanto no hospital, onde os médicos alegaram ter encontrado pelo menos 11 feridas no pai e no garoto, quanto no local, onde a polícia não fez nenhuma investigação.
General palestino: No caso de divergências sobre o reconhecimento de um cadáver, só então há necessidade de se fazer exames mais detalhados. Mas quando há uma concordância sobre a identidade do corpo, então não há porque conduzir o caso a um processo de investigação mais detalhado.
Repórter: Então no que vocês todos concordaram?
General palestino: Que foi o lado israelense que cometeu esse assassinato.
Quando perguntado sobre as balas, Talal torna-se evasivo.
Repórter: Que tipo de bala era? Qual era o tamanho?
Talal: Eu não sei. Você pode perguntar ao general e ele vai lhe dizer.
Quando disseram a ele que o general não tinha essas informações, Talal mudou de história.
Talal: A France 2 recolheu as balas.
Tendo em vista que ele era o único representante da France 2 no local, que a emissora nem mesmo teria como ter guardado tais evidências, que ele tinha sido pego na mentira, Talal replicou:
“Nós temos nossos segredos, você sabe. Para a nossa segurança.”
Nós temos nossos segredos? É por isso que ele fez o sinal de “take dois” no meio da cena da morte? É por isso que Talal cobriu as lentes da câmera? É por isso que não há autópsia, investigação, nenhuma outra evidência mais clara que menos de um minuto de um suspeito filme sem nitidez e picotado?
Talal: A ambulância só pode entrar para salvá-lo talvez 20 minutos depois do garoto ter caído no colo do pai.
Por que Talal não fez imagens de quando a ambulância deixava o local? Por que ele não seguiu até a porta do hospital para captar a imagem do pai chegando? Por que, se um dos motoristas de ambulância foi atingido, como se disse, não há nenhuma imagem dos tiros, ou da debandada, ou até mesmo do furo de bala na ambulância?
Os que viram as imagens daquele dia, além das que a France 2 não mostrou, ficaram chocados com a quantidade de imagens forjadas, captadas pela câmera de Talal. Repórteres independentes recentemente confrontaram a France 2 com essa revelação perturbadora e receberam a seguinte resposta: “Sim, mas vocês sabem bem que é sempre assim”.
Sempre? Mesmo com Muhamed Al-Dura? A questão permanece: se era mesmo verdade, por que tantos segredos? Por que tantas mentiras?
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