segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Cuidado com os neutros

Aprendemos na escola a exaltar a neutralidade da Suiça e da Suécia na Segunda Guerra Mundial: não se envolveram, não apoiaram o nazismo, não perseguiram as vítimas de Hitler...

Verdade mesmo?

Nem tanto, como mostra Tony Judt em "Pós-Guerra - uma história da Europa desde 1945".

Ou muito antes pelo contrário, se levarmos em conta de que não existe maior engajamento do que o apoio financeiro e econômico. Eis um trecho do livro, o primeiro de alguns que este blog tratará de transcrever a partir de hoje:

"A maioria dos países europeus neutros se engajou, ainda que indiretamente, no esforço de guerra nazista. A Alemanha muito dependia da Espanha de Franco para o suprimento de manganês durante a guerra. Tungstênio chegava à Alemanha proveniente de colônias portuguesas, via Lisboa. Durante a guerra, a Alemanha supria 40% de suas necessidades de minério de ferro com produção vinda da Suécia (transportada ate portos alemães por navios suecos). E tudo isso era pago em ouro, em grande parte roubado das vítimas da Alemanha e canalizado pela Suiça."

Os suiços fizeram mais do que lavar dinheiro e canalizar recursos para a Alemanha, atos que, por si só, contribuiram substancialmente para a guerra de Hitler. Em 1941 e 1942, 60% das indústrias de munição da Suiça, 50% da indústria ótica e 40% da produção em engenharia atendiam à demanda da Alemanha, tudo remunerado em ouro. Em abril de 1945, a Bührle-Oerlikon, fabricante de armas de pequeno porte, ainda vendia armas ligeiras para a Wehrmacht. Durante a Segunda Guerra mundial, o Reichbank alemão depositou, no total, 1.638.000.000 francos suiços na Suiça. E foram as autoridades suiças que antes do início da guerra passaram a exigir que os passaportes alemães indicassem se os portadores eram judeus, a fim de dificultar a entrada de viajantes indesejados."

É claro que o esplêndido livro de Tony Judt dedica muito mais espaço a algo tão grave quanto à falsa neutralidade suiça, sueca, espanhola e portuguesa. Demonstra que, tão grave quanto à mentira da imparcialidade, é a falsa adesão ao lado certo: publicamente, um país podia censurar o nazismo enquanto, internamente, nutria simpatia pela "obra" de Hitler. Até que Winston Churchill conseguisse convencer o povo britânico de que o nazismo representava grave ameaça, a ser enfrentada e destruída, seus colegas de parlamento flertaram com o regime alemão. O pacifismo inglês, ainda mais forte nos Estados Unidos, quase entregou à Europa ao nazismo.

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