terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Chuvas acordam o brasileiro cretino

Menos do que choque, o roubo de donativos enviados para os flagelados de Santa Catarina provoca desalento e prostração. Que o brasileiro consiga ser tão cruel quanto qualquer povo, como bem lembrou Guido Cavalcanti, amigo do blog, num comentário que reproduzo em seguida, não pode ser motivo de surpresa.

É até possível que, pouco acostumados com guerras, genocídios, perseguições metódicas e situações prolongadas de miséria - como a maioria dos povos europeus, asiáticos e africanos, incluídos, naturalmente, judeus e palestinos - os brasileiros repousem, adormecidos, numa escala de mesquinharia abaixo da média da humanidade. Uma tragédia qualquer, como a de Santa Catarina, faz acordar o cretino que se esconde em muitos de nós.

Eis o comentário do Guido Cavalcanti:

Saqueadores estiveram agindo em todos os acontecimentos trágicos da história e em todos os lugares do mundo. Exemplos: os soldados massacrados de Custer foram roubados dos soldos que guardavam nos bolsos, ainda intactos depois do pagamento antes da batalha. Não foram os índios, pois eles só levaram os escalpos:-)

Outro exemplo: os moribundos da batalha de Waterloo chegaram a durar uma semana até todos morrerem. Nesse ínterim foram totalmente saqueados, inclusive dos uniformes. Entre os saqueadores estavam mulheres. Nossos soldadinhos e voluntários roubando donativos em SC apenas expõem um lado que julgamos não ter: a de um povo solidário e bondoso. Qual nada, somos um povo tão impiedoso e venal como qualquer outro.

Concordo com o Guido, como quase sempre. A prática da pilhagem e do despojo dos derrotados é tão antiga quanto a guerra. Já foi natural que povos inteiros de países derrotados se tornassem escravos dos vencedores. Os valorosos heróis do exército soviético que libertaram a Europa do nazismo atravessaram vários países, até chegar a Berlim, deixando um rastro de rapinagem e estupros de mulheres e adolescentes aceitos como naturais e compreensíveis pelos seus comandantes. Seria uma justa recompensa para um povo que sofreu tanto com a invasão nazista.

Mas um detalhe precisa ser levado em conta: o exército brasileiro não está em guerra, os civis catarinenses não estão sob ocupação. São, apenas, como sugeriu Guido, impiedosos e venais.

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