Além de noticiar o fato com chamada forte na primeira página, promoveu um rápido debate a respeito.
O primeiro "ólogo" a ser ouvido, um professor de ética da Unicamp, já foi logo arrumando uma desculpa para a canalhice: o comportamento de juízes, políticos e empresários que advogam em causa própria incentiva ações como as dos soldados e voluntários de Santa Catarina. Segundo o professor, trata-se do sentimento do "se ele pode, eu posso".
Mentira!
E eis aqui uma das causas de tanta cretinice. Estamos sempre buscando uma maneira de culpar terceiros por nossos atos.
Um assaltante rouba e, eventualmente, mata, porque é pobre, teve uma infância difícil e foi maltratado. Culpa da elite.
Um traficante vende drogas e age com violência contra os seus inimigos porque a elite não lhe permitiu ser um cidadão completo, com educação e emprego.
Dez soldados, um sargento e voluntários pilham donativos destinados aos flagelados das enchentes porque juízes, politicos e empresários não lhes deram bons exemplos.
Chega de culpar os outros por nossos erros. Chega de responsabilidade social em detrimento da responsabilidade pessoal.
Em tempo: embora tenha sido o único jornal a perceber a importância do assunto, O Globo cometeu um, digamos, deslize na sua cobertura. Na página 3, informou aos leitores que o debate que estava promovendo tinha origem na reportagem exibida pelo Jornal Nacional, da TV Globo; só na página 4, na continuação do noticiário, prestou a informação correta: a reportagem original é da RBS TV, de Santa Catarina.
Um comentário:
Digam os "ólogos" o que disserem, há um fato corriqueiro por trás da rapinagem dos donativos para SC: a sensação muito brasileira de que o que é público "não tem dono", ou seja, o que está exposto é para todos se servirem. É uma maneira desavergonhada com que sistemáticamente nos saqueamos uns aos outros na maior cara-de-pau. Uma das saqueadoras mostradas no JN, edição 16/12, era uma típica dona-de-casa que, sem se desculpar, "pensou que podia pegar, porque lhe haviam dito que podia". Ela estava preocupada em ver como se justificar e não ficar mal-vista pelas colegas. Não duvido que seja perdoada, depois de alguns resmungos. Temos arraigado em nós a noção de que "não faz mal pegar uma coisinha" e escondê-la: herança cultural do método para sobrevivência durante a escravidão - a dissimulação. E também acontece com objetos privados, livros por exemplo: já notaram como ninguém devolve livro emprestado? E quando vc pede de volta, o outro é que fica "pau da vida". Uma típica inversão de valores em que nós, uma nação-171, somos muito hábeis.
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