A idéia do Globo de fazer uma série pondo em discussão os mitos cariocas é muito boa. A primeira edição, sobre o fato, percebido pela gaúcha Adriana Calcanhoto, de que os cariocas não gostam de sinal fechado, ficou muito bem realizada e agradável de ler. Tinha clima, boas histórias e pesquisas curiosas a sustentá-las.
O mesmo já não aconteceu neste domingo, quando o tema foi a suposta malandragem carioca. A realização ficou um pouco, digamos... malandra. Foram apenas três situações, abordadas rapidamente - em duas, cariocas foram vítimas de um espertalhão, na terceira o alvo da malandragem soube escapar.
Mas este não foi o maior defeito da reportagem. O pior foi a confusão conceitual em que o jornal se enredou. Na primeira página, O Globo decretou que "o carioca é mané", ao invés de malandro. Num gráfico, ficou estebelecido que os curitibanos são muito mais enganados por estelionatários do que os habitantes do Rio. Isto faria de nós - que vivemos aqui - mais espertos, mas o jornal não explora esta conclusão óbvia. Preferiu concluir que, se há menos estelionato, há menos malandragem no Rio.
Também há um equívoco evidente na automática analogia entre um crime e um estado de espírito: malandragem é tratada como sinônimo de estelionato. Enfim, as conclusões são simplistas, frágeis, e não se sustentam. Pelo menos, não amparam o título da primeira página.
Um comentário:
Marona, aproveitando o tema, gostaria de propôr uma campanha cívico-educativa pelo fim do termo/artigo/adjetivo/verbo/coringa universal "complicado"...Que saco, rapaz...Não é possível ouvir repórteres e apresentadores de telejornais dizendo o tempo todo que o "trânsito está complicado", que o tiroteio "complicou" a vida na favela, que a fila do SUS anda "complicando" a vida dos doentes e que a casa que ruiu soterrando uma família inteira é uma coisa bem "complicada" (tem um certo Fábio Ramalho, da Record - Record vale? - que é impressionante)...Será que essa gente, além de semi-analfa, também não tem um pingo de imaginação?
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