segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Blog declara cessar-fogo unilateral

Este blog declara um cessar-fogo unilateral na guerra de opiniões sobre o conflito entre Israel e o Hamas. Ou entre Israel e as criancinhas palestinas, como prefere um lado do confronto.

Adota a suspensão incondicional das hostilidades porque já cansou de um debate em que, de cada lado, a sinceridade é soterrada pela ideologia; e porque começa a se arrepender de ter enfastiado os leitores

Falta de convicção? Não. Falta de saco, mesmo, embora este blogueiro sempre tenha tomado o cuidado, em relação a qualquer assunto, de considerar a hipótese de estar errado ou, o mais chocante, de vir a mudar de opinião. Se quiserem coerência absoluta e submissão rigorosa ao consenso, há ótimos blogs por aí, muito mais adequados – e mais freqüentados.

Não que este blog aqui seja uma metamorfose ambulante. Que é isso! No entanto, costuma prestar rigorosa deferência à dúvida. Gostaria de ter a mesma eficiência no respeito à lógica, e sempre tenta, mas neste caso falta-lhe um pouco mais de talento. Lógica exige raciocínio e texto final mais perto da perfeição – duas áreas em que ainda tem muito o que aprender.

O blog retira suas tropas para a fronteira, onde ficarão de prontidão. Sabe que esta retirada unilateral será compreendida como uma derrota, mas é o preço que deve pagar para evitar, enfim, o massacre da paciência de leitores civis não-combatentes.

Deixa, como ecos da última batalha, algumas respostas a um longo texto contra Israel feito por um jornalista conceituado e enviado ao blogueiro por um amigo, também jornalista, mais ou menos com aquela frase cheia de comiseração:

Leia e reflita, meu amigo, para você entender que está no lado errado.

O blogueiro leu, refletiu e concluiu que está mesmo no lado certo.

Vamos lá. Retirei do texto sete trechos importantes, fundamentais no raciocínio do jornalista, aos quais preciso apresentar ressalvas que definirão com clareza minha opinião a respeito da guerra e, principalmente, da atitude de muitos críticos de Israel – nem todos, mas a maior parte.

O articulista lembra que os judeus foram expulsos mais de uma vez, na antiguidade, da região do planeta em que Israel está situado, para concluir:

“O problema é que se a humanidade tivesse que resolver suas pendências territoriais com reivindicações de quase dois mil anos, o mapa do Mundo seria um caos; nós, por exemplo, teríamos simplesmente que ir embora e pedir desculpas aos índios.”

Em seguida, o autor cita guerras bíblicas de extermínio lideradas pelo povo judeu, há milênios e, ao dar um salto no tempo para a guerra atual, afirma:

“Agora os velhos princípios de retaliação e extermínio já fundamentados no Velho Testamento estão de volta, uma triste repetição sem fim.”

Isto quer dizer o seguinte, meus caros:

Segundo o articulista, não faz sentido citar a expulsão dos judeus há mais de dois mil anos para legitimar a sua presença naquela região atualmente, mas faz todo sentido citar guerras relatadas no Velho Testamento para provar que os judeus são agressivos e continuam se comportando como seus antepassados bíblicos.

Outra do artigo enviado pelo meu amigo para me “orientar”:

“Nas últimas eleções realizadas na Palestina, o Hamas, um movimento radical islâmico sunita, ganhou derrotando o Fatah, o partido do falecido Yasser Arafat, que era percebido pelos palestinos como corrupto ao extremo. As eleições foram limpas, mas para o Ocidente, a democracia passa quase sempre a ter um valor relativo quando o resultado não agrada, seja na Palestina, na Argélia ou no Chile.”

O argumento é falacioso:

A rigor, o Hamas não podia ter participado da eleição pela simples razão de que não respeita o jogo democrático. Não pode participar deste jogo quem propõe a sua extinção. Deu no que deu. Recém ungido pelas urnas, o Hamas deu um golpe de estado, expulsou o Fatah e matou nada menos que 850 de seus militantes.

Segundo o artigo a que tento responder, “o resultado foi uma pressão, com sanções internacionais que levaram a uma luta interna e à divisão dos palestinos.”

Mentira muito marota:

A luta interna entre os palestinos – Fatah e Hamas – não teve origem nas pressões que se seguiram ao resultado da eleição. É rixa antiga, sustentada na diferença importante entre os dois grupos: o Fatah, secular, defende a criação de uma nação palestina, mas não propõe a extinção do Estado de Israel; o Hamas, teocrático e terrorista, afirma oficialmente que a vitória só terá sido alcançada quando todos os judeus que vivem em Israel tiveram sido mortos por uma jihad islâmica.

O jornalista que condena a posição de Israel tem uma outra explicação para o inicio da atual guerra:

“O gueto começa a desesperar-se e é nesse contexto que o atual conflito recomeçou. Os palestinos que se amontoam em Gaza não estão lá porque queiram viver na praia, mas porque foram expulsos de suas terras a partir da formação do Estado de Israel e jamais se falou em sequer indenizá-los.”

O conflito não começou porque o gueto ficou desesperado. Começou porque, nos últimos dois anos, o gueto disparou 2.132 mísseis contra as cidades do Sul de Israel. Deve ser o primeiro caso de gueto com mísseis iranianos de que se tem notícia. Imaginem o que teriam feito os judeus do gueto de Varsóvia com tal recurso.


O penúltimo argumento:

“Uma semana de bombas e o total de mortos palestinos já se aproxima de 500, dos quais dezenas de crianças, e quase três mil feridos como represália a foguetes que até então então não havia morto um só israelense (e quando mataram um, no primeiro dia da ofensiva de Israel, acertaram um beduíno, um trabalhador árabe). Isso é uma resposta desmesurada sim, ainda mais porque já vem sendo feita à séculos, milênios e só tem levado a novas guerras e mais massacres.”

Aqui, percebe-se, de novo, a afirmação de que os judeus são agressivos hoje porque são agressivos há séculos e milênios. Êta povinho incorrigível! E repete-se um dos mais desonestos argumentos usados contra Israel nesta guerra – o de que a reação foi desproporcional. “Só um morto!” “E nem era judeu!”.

Mais uma vez, os judeus são acusados de... não morrer.

E, para finalizar a discussão e dar início efetivo ao cessar-fogo, uma última afirmação do jornalista que escreveu um artigo a mim enviado como orientação por um grande amigo:

“Não se deve negar a Israel o direito a existir, mas o fato é que qualquer república baseada em religião e exclusão só gerará violência.”

Cascata!

Israel não é uma teocracia. Teocracia é o Irã. Teocracia é o regime defendido pelo Hamas. Israel é um país secular e democrático. Os partidos políticos israelenses são laicos, ainda que eventualmente um ou outro sofra influência de princípios religiosos – como acontecia na democracia-cristã européia, nos anos 70 e 80. Em Israel há partido trabalhista, socialista, comunista, árabe... Há candidatos, parlamentares e eventualmente governantes crentes ou ateus. Os fundamentalistas islâmicos defendem a imposição de seus princípios aos seguidores de todas as outras religiões. Os israelitas nunca o fizeram.

É claro que o artigo ao qual estou fazendo ressalvas jamais, em nenhuma linha ou entrelinha, fez qualquer restrição, em uma única palavra que seja, ao terrorismo praticado pelo Hamas. Israel é tratado como agressivo “há milênios”, é acusado de ter o terrorismo em sua história recente, mas o autor esquece da existência dos homens-bomba do Hamas.

2 comentários:

Zé Carlos disse...

Marona

Este cessar-fogo prova mais uma vez a enorme superioridade dos Judeus em termos bélicos.

Os Judeus destruiram o que podiam em Gaza até o momento da posse de Obama. Ou poderia ser outro momento de sua preferencia.

Só o fato dos Judeus prometerem um cessar-fogo mostra ao mundo que eles tem plena convicção que outras guerras virão.

Sabe porque?

O problema está lá! Os palestinos estão com o mesmo ódio! As mesmas dificuldades!

Só estão momentaneamente "desarmados".

Até a próxima retaliação Israelense! Um abraço!

Walace ramos Barbosa disse...

Infelizmente sou obrigado a concordar com o governo de Israel, quando retalia o Hamas por ataques sofridos. Mesmo porque se os Comandantes do Hamas não quisessem vítimas civis, não estariam lançando mísseis e ataques de dentro das cidades.

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