sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Liquidação-relâmpago de presos políticos

Eis mais um fragmento de livro cuja leitura pode ser considerada indispensável. Está nas páginas 502 e 503 de "Pós-guerra: uma história da Europa desde 1945", de Tony Judt.

"Em setembro de 1973, as Nações Unidas reconheceram e admitiram o ingresso das Alemanhas Oriental e Ocidental como Estados soberanos; dentro de um ano, a República Democrática Alemã tinha sido reconhecida diplomaticamente por 80 países, inclusive os EUA. Numa repercussão irônica das mudanças ocorridas em Bonn, os líderes da República Democrática pararam de se referir à 'Alemanha' e, demonstrando crescente confiança, começaram a falar da RDA como Estado germânico distinto, legítimo, autônomo, e com futuro exclusivo - calcado, conforme tais líderes insistiam, não apenas em alemães 'bons' e antifascistas, mas no solo e no legado da Prússia. Enquanto a Constituição da República Democrática aprovada em 1968 estabelecia o compromisso com a reunificação, tendo por base a democracia e o socialismo, a referência não consta da versão revista da Constituição promulgada em 1974, tendo sido substituída pela promessa de manter 'para sempre, e em caráter irrevogável, a aliança com a URSS'.

"Havia também bases mais imediatas e mercenárias para o interesse oficial da República Democrática na Ostpolitik. Desde 1963, a RDA 'vendia' prisioneiros políticos para Bonn, por dinheiro vivo, o preço dependendo da 'cotação' e das qualificações do candidato. Já em 1977, para obter a libertação de detentos na Alemanha Oriental, Bonn pagava cerca de 96 mil marcos alemães por pessoa. Entre os feitos diplomáticos da nova política cabe destacar a institucionalização do reencontro de famílias cujos membros viviam de lados opostos da fronteira: para tal, as autoridade em Pankow cobravam mais 4.500 marcos por cabeça (uma barganha - em 1983, o ditador romeno Ceausescu cobraria de Bonn 8 mil marcos por pessoa para permitir que indivíduos de origem alemã saíssem da Romênia). Segundo uma estimativa de 1989, o valor total extraído de Bonn pela RDA em troca da libertação de 34 mil prisioneiros, do reencontro de 2 mil filhos com seus respectivos pais e da 'viabilização' de 250 mil casos de reencontro familiar chegava a quase 3 bilhões de marcos."

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