sexta-feira, 24 de abril de 2009

Imprensa brasileira apanha de uma URL

É perigoso ficar duas horas esperando por um vôo no aeroporto de Brasília. Quase impossível não encontrar gente conhecida - daquelas que não queremos ver de jeito nenhum, assim como daquelas que poderia ser um prazer reencontrar depois de tanto tempo, se não fosse necessário iniciar o contato com um demorado resumo dos melhores e piores momentos ocorridos durante o longo hiato.

Melhor não ver ninguém.

Há duas saídas: abrir o notebook ou comprar um livro. Das duas atitudes, a menos curiosa, para este blogueiro, ainda é a leitura do livro. É mais fácil passar sem ser notado.

Comprar o livro certo em lojas de aeroporto é questão de sorte. A maioria faz por merecer uma leitura desatenta até a chamada para o vôo e depois acaba esquecida numa prateleira qualquer.

Não foi o caso de "Mussolini e a ascensão do fascismo", de Donald Sassoon, que já havia sido lido, com ávida curiosidade, antes do anúncio da descida no Galeão.

Alguns trechos sobre o antiparlamentarismo que tomou conta da Itália no período que antecedeu a vitória do fascismo podem não representar qualquer tipo de analogia com a desmoralização do Congresso brasileiro, mas chamam atenção:

"Os liberais tradicionais também se mostravam hostis ao Parlamento, ou pelo menos a um Parlamento dominado pelos partidos políticos. Preferiam largamente agrupamentos amorfos de indivíduos. Os nacionalistas consideravam o Parlamento como o lugar em que a nação se dividia, mostrando-se refratários a ele. Mussolini herdara do pai, Alessandro, a noção de que o Parlamento era um clube de ricos onde se negociava o destino das massas - avaliação não inteiramente destituída de fundamento. Manifestou seu desprezo pela instituição num arroubo de oratória muito elogiado durante a conferência socialista de Reggio Emilia, em julho de 1912. Nela, declarou que o cretinismo parlamentar era mais pronunciado na Itália do que em qualquer outro país; que o Parlamento só tinha utilidade para a burguesia; que o sufrágio universal não era de grande valia; e que os debates da bancada parlamentar socialista eram patéticos e não mereciam atenção.

(...)

"O Parlamento era uma arena em que os representantes dos interesses fundiários e os industriais da Itália entravam permanentemente em disputa em torno de cada lei ou medida financeira. Da noite para o dia, adversários podiam ser 'transformados' em aliados mediante suborno direto ou indireto - razão da designação pejorativa transformismo ser aplicada ao sistema. O difuso sentimento antiparlamentar mencionado anteriormente era uma consequência direta dessa situação."

O blog especula:

O que isto tem a ver com o Brasil de hoje? Rigorosamente nada.

Mas a experiência italiana que resultou em 20 anos de fascismo demonstra que a desmoralização da atividade parlamentar - para ser mais exato, a autodegradação do parlamento - pavimenta o caminho trilhado pelas aventuras autoritárias.

O Congresso brasileiro não chegou no fundo do poço por uma razão muito simples: este tipo de poço não tem fundo. Quando parece ter sido atingido o nível mais baixo de degeneração, algo mais impressionante e desmoralizante é trazido à luz.

E que, desta vez, não se atribua à imprensa a imagem suja do Congresso.

Se dependesse dos jornais e veículos tradicionais, os brasileiros não teriam tomado conhecimento da farra das passagens aéreas. Todas as notícias importantes sobre esta extensa e indiscriminada maracutaia - que envolve de Fernando Gabeira ao mais desavergonhado representate do baixo claro - foram divulgadas primeiro pelo site www.Congressoemfoco.com.br.

Por que os grandes jornais tiveram que pegar carona num site?
  • Por que uma parcela dos jornalistas não se sente confortável denunciando falcatruas do Congresso.
  • Por que alguns jornalistas têm parentes e amigos trabalhando (pouco) e ganhando (muito) no Congresso.
  • Por que alguns jornalistas dos grandes jornais pode vir a trabalhar no Congresso.
  • Por que muitos repórteres perderam a vontade e a capacidade de apurar e investigar.

Por estas e outras, a imprensa brasileira levou um banho de jornalismo de uma URL.

3 comentários:

CFagundes disse...

Opção C, porque todos os jornalistas que cobrem o congresso acabam se deslumbrando com a elegância dos corredores, com a oportunidae de virar funcionário público para fugir do risco de ser carcado pelo jornal e cair no olho da rua, como vem acontecendo.

Anônimo disse...

Sabe de uma coisa? Uma diferença gritante no jornalismo de hoje e de 35 anos atrás, é que hoje os caras se sentem galãs de novela. Periga te oferecem um autógrafo. Eu preferia frequentar o baixo meretrício, porque o Baixo Leblon.... tenha a santa paciência!

Acho que essa turma tá envenenada por açaí na tigela. Eu sabia que não ia dar coisa boa.

shirlei horta

L.A.M disse...

By the uai, como sói ser dito em MG, jornalistas seguem apanhando de UM URL. Uniform Resource Locator, Localizador Uniforme de Recursos.

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L.A.M

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