Recebi email da presidente do sindicato dos jornalistas, Suzana Blass, que contesta as minhas críticas à adoção do ponto no Globo.
Como são críticas feitas em tom educado, como devem ser, mesmo quando duras e veementes, publico aqui:
Caro Marona,
Sou presidente do sindicato dos jornalistas e trabalho em redação há 25 anos, dos quais 13 passei no JB e estou em O Dia há 12 anos. O vice está há mais de trinta anos no mercado e hoje trabalha na TV Globo. O secretário geral idem e por aí vai...Durante todos esses anos vimos muita coisa mudar no jornalismo. As redações encolheram com os cortes de gastos. Para conviver com as crises foi necessário reduzir custos em pessoal e outros instrumentos de apuração. Acho que vc deve ter sentido isso na pele em sua passagem pelo JB. Vc parece não saber mas tem gente que trabalha muito e, além de não conseguir folga, ainda assina um documento dizendo que folgou. Isso acontece no Extra e no Globo. Foram essas pessoas que em assembléia reivindicaram o controle de frequência. Votaram e aprovaram a ação judicial que o sindicato, como representante da categoria, move. Eles querem sua folgas sem ter que implorá-las ao editor como se estivessem pedindo um favor. Nós já estamos trabalhando em fábricas de salsichas meu caro, onde os que ganham menos trabalham muito mais do que os que ganham mais. E eles querem continuar trabalhando muito, mas querem receber pelo tanto que trabalham ou, pelo menos, compensar suas horas extras. A lei permite isso. A imbecilidade é trabalhar muito e continuar ganhando pouco para que seus editores continuem ganhando seus prêmios anuais. Nós pedimos o controle da frequência, mas a burocracia que veio com isso é o aquário de O Globo que está impondo. Aliás, nem o RH está cobrando o que os editores cobram com o objetivo de colocar a redação contra o sindicato. Mas isso não está acontecendo Marona. Estamos cumprindo com o papel que a maioria dos jornalistas do Globo nos cobrou. Só nos desqualifica quem quem tem uma visão de cima e não quer perder seus privilégios.
Um comentário:
Marona, tive o prazer de trabalhar com dois atuais integrantes da diretoria do Sindicato que jamais hesitaram em que eu - então, estagiário - trabalhasse mais de oito horas, quando necessário.
Sem nem arremedo de hora extra.
Ao mesmo tempo, cansava de ligar do orelhão da Praia Vermelha para saber se tinha matéria em uma movimentadíssima delegacia no caminho entre a faculdade e a redação.
Para quê ir até o fim do caminho para bater ponto e voltar para o meio do percurso perdendo tempo?
Seria muito bom ter tido hora extra, mas, já que não tinha, não ia deixar de aprender o mais que pudesse por causa.
Se, como jornalistas, não ligavam para a exigência que tentam impor agora, como sindicalistas, não estavam errados. Errada é essa exigência contraproducente.
Eu opto pelo jornalismo.
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