Guido Cavalcante
A cobiça internacional pelos recursos minerais e da República Democrática do Congo (RDC), estimulada pela indiferença mundial, transformou uma grande parte daquele país numa colossal "mina de estupros", onde mais de 300.000 mulheres e meninas foram brutalizadas desde que a guerra irrompeu em 1996.
"O estupro está sendo usado como uma ferramenta para controlar as pessoas e o território", disse Eve Ensler, dramaturga e fundadora do V-Day, um movimento global para pôr fim à violência contra mulheres e meninas no Congo e em dezenas países.
"As violações são sistemáticas, terríveis e muitas vezes envolvem bandos de rebeldes infectados com AIDS, diz Ensler. “Centenas de mulheres e crianças foram violadas ontem, centenas mais hoje.
Esta é uma guerra econômica, que usa o terror como a principal arma para garantir aos chefes militares e bandos o controle regiões onde empresas internacionais mineram metais preciosos como o estanho, a prata, o coltan e para extrair madeira e diamantes.”.
Coltan é um raro e extremamente valioso metal utilizado em telefones celulares, DVD players, computadores, câmeras digitais, vídeo games, air-bags de automóveis, e quase tudo o que utilizamos de eletrônicos hoje em dia. Há muito dinheiro implicado, simultaneamente, como fonte de financiamento, que, por sua vez, se torna a principal causa do conflito e da extraordinária violência contra as mulheres.
"Um amigo mapeou os locais de estupros em massa na República Democrática do Congo e ficou evidente que correspondem às regiões mineiras onde o coltan é extraído", disse Eve Ensler.
Este "coltan sangrento" - semelhante aos “diamantes sangrentos” do Congo - gera milhares de milhões de dólares de vendas a cada ano aos fabricantes de eletrônicos nos países industrializados e traz centenas de milhões de dólares aos rebeldes e outros que controlam as regiões produtoras de coltan. Para “limpar” o coltan, o composto mineral extraído da República Democrática do Congo é frequentemente transportado para países vizinhos, para dar-lhe uma “aparência” isenta da selvageria, brutalidade e horror com que é produzido na RDC. Assim podemos consumir nossos banais celulares sem um sentimento de culpa.
Em Janeiro de 2008, os grupos rebeldes assinaram um tratado de paz com o governo da RDC, acusado de corrupção e cumplicidade na violação de mulheres. Apesar do tratado, milhares de mulheres e meninas no leste do Congo foram violentadas desde aquele ano na região que faz fronteira com Ruanda e Uganda, onde o coltan e outros minerais são encontrados. Os grandes combates recomeçaram em Julho, obrigando centenas de milhares a fugir de suas casas.
Há um documentário “The Greatest Silence: Rape in Congo” sobre as mulheres que sofrem violência sexual, produzido pela HBO, que mostra que o estupro é visto como arma de guerra e as mulheres são agredidas muitas vezes por dezenas de homens armados, que não só agridem, como dilaceram orgãos internos enfiando pedaços de galhos e pedras no interior das mulheres via anal e vaginal, frequentemente rompendo o intestino e o sistema urinário e deixando sequelas irreversíveis, degradantes e humilhantes para as mulheres, que ficam sem controle biológico durante a eliminação da urina e fezes, quando não morrem devido as infecções.
As entrevistas com mulheres que contaram suas experiências, e com os médicos que relatam alguns casos chocantes, como o de uma mulher que teve seu anus e vagina queimados depois de ter sido obrigada a sentar em uma fogueira após ter sido violentada por 12 homens, mostram que não dá mais para ficar indiferente a tais atrocidades enquanto falamos abobrinhas, orgulhosos do nosso novo celular.
Ligando as coisas para terminar, Eve Ensler é a autora da peça "Monólogos da Vagina".
4 comentários:
Guido,
Obrigado mais uma vez pela sua contribuição.
Excelente alerta para todos nós, uma vez que a mídia oficial não divulga nada disso.
O que acontece é algo bárbaro e monstruoso e que não terá fim, enquanto não for divulgado nos ditos países desenvolvidos.
Léo, existe alguma reação na Europa e EUA - basta jogar a palavra coltan no Orkut, Facebook ou Twitter, pra ver as comunidades. Ademais, documentários, matérias em sites e o próprio V-Day. É incrível, porém, a indiferença nos países periféricos como o nosso - deve ser porque a vida humana não vale nada aqui e em lugares semelhantes :-(
È UM HORROR!!
aTÉ ONDE VAI A GANACIA DO HOMEM..ETAMOS VIVENDO UM TEMPO DE TOTAL DESPREZO PELA VIDA, E, COMO SEMPRE MULHERES E CRIANÇAS SÃO ALVOS PREFERIDOS...A PERVERSIDADE LIVRE
qUERO PODER AJUDAR A DIVULGAR, A NOSSA EMPRENSA N DIVULGA..ACREDITO QUE AINDA EXISTE PESSOAS HUMANAS.
oBRIGADA POR ME ENVIAR ESTE BLOG.
não da para assistir esse documentario e nao se chocar ou chorar,o que enxerguei foi um grito de socorro! o proprio exercito congoles e alguns soldados da ONU que deveriam proteger estavam ali praticando essas atrocidades,na verdade parece que não há mais esperança,ate para nós,porque ficamos sentados so vendo o filme passar,com mãos atadas esperando acabar .Acabou o amor ao proximo,e a unica coisa que podemos fazer é orar a Deus e pedir pela vida das senhoras,mães,filhas e crianças,só assim a fé é renovada e poderemos ter esperança,crendo que a justiça de Deus sera feita,porque lá nao há justiça.
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