quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O VT do ano ficou sem lead

Ela sabia que estava com a matéria do ano nas mãos. Um país devastado, mais de 100 mil mortos, a cidade soterrada por escombros, buscas desesperadas de sobreviventes sem resultados animadores... e, de repente, o acaso a empurra, e ao cinegrafista, para o centro de uma história magnífica: uma mulher sendo retirada debaixo de toneladas de tijolos, concreto e ferros retorcidos.

Tudo filmado, movimento por movimento, o sofrimento da vítima, os gemidos, as palavras de conforto dos socorristas, o desespero de quem lutava para chegar a tempo ao buraco onde aquela mulher estivera presa por vários dias. Um milagre acontecia diante da câmera. A repórter narrava com voz embargada, mas tentava manter a calma, lutava para não gritar ou atropelar as palavras.

Perfeito, até que um aviso pelo celular determinou: prepare-se para a entrada ao vivo. Péssima notícia. Para entrar ao vivo, a equipe teria que mudar de posição, o cinegrafista seria obrigado a deslocar a câmera da mulher que estava quase sendo retirada, aparentemente com vida, para o plano fechado no rosto da repórter, em local de luz adequada.

Ela entrou ao vivo, como manda o figurino, mas perdeu o momento mais importante da história: o exato instante em que a vítima era resgatada, viva. Dias depois, a emissora conseguiu exibir esta cena final, comprada de um sujeito que filmou com o celular. Imagem tosca, sem qualidade, ainda assim útil.

Mas a matéria do ano ficou sem lead.

Um comentário:

Leo Lagden disse...

Realmente uma falta de competência e bom senso.

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