sábado, 17 de maio de 2008

Diálogo com o terror, não, Obama

Confesso que não me agrada a idéia de que os Estados Unidos venham a ser governados, pelos próximos quatro ou oito anos, por um político que teve como mentor espiritual, durante 20 anos, um pastor delirante que considera os atentados de 11 de setembro de 2001 um castigo merecido para o país.

Mas até ai, tudo bem, mesmo porque Bush também é um religioso fundamentalista, e podemos acreditar no gesto de Barack Obama, que no mês passado (apenas no mês passado!) decidiu renegar publicamente o pastor.

O que me preocupa muito mais é a reação de Obama à armadilha em que George W. Bush o jogou, anteontem, durante visita a Israel. Bush não citou o nome do quase-candidato Democrata, mas era dele que estava falando quando disse:

"Há quem acredite que nós devemos negociar com terroristas, como se houvesse algum argumento engenhoso capaz de persuadi-los de que estão errados todo este tempo. (...) Nós temos obrigação de chamar este tipo de ilusão pelo seu verdadeiro nome: trata-se do falso conforto dos bajuladores, que repetidas vezes foi desacreditado pela História".

A reação de Obama:

"George W. Bush e John McCain estão juntos na tentativa de criar um clima de medo diante das ameaças terroristas. Não dizem a verdade e são desonestos. Este foi o tipo de ataque político apelativo que dividiu o país pelo medo. A política de Bush é hipócrita, vende o medo, encoraja o medo e, na realidade, conseguiu como resultado impedir que nós ficássemos mais seguros".

Na entrevista, Obama defendeu o diálogo com Irã, Hamas e Hezbollah.

E é aí que mora o perigo.

Acusado por Bush de embarcar numa política de apaziguamento e tolerância com o terrorismo, Obama responde defendendo uma política de... apaziguamento e tolerância com o terrorismo.

Além disso, mente ao afirmar que a política externa de Bush não deixou os Estados Unidos mais seguros. O 11 de setembro foi em 2001 e, desde então, os Estados Unidos não foram alvo de nenhum atentado, nem em seu território, nem fora dele. Se o objetivo de uma política externa é reduzir o risco de novas tragédias como aquela, então Bush é um vitorioso. Ou a minha antipatia por ele deve me impedir de admitir isto?

A tese do diálogo e apaziguamento com o inimigo, imediato ou potencial, não deixou boas lembranças à humanidade. O primeiro-ministro inglês Neville Chamberlain voltou da Conferência de Munique, em 1938, com um pacote de garantias assinadas por Hitler de que não haveria guerra na Europa. Defendeu com unhas e dentes o apaziguamento com o Reich.

Não estava sozinho. Tinha aliados defensores do diálogo com os nazistas na França e em vários outros países europeus. Nos Estados Unidos, a defesa do enfrentamento do nazismo era quase exclusividade de ativistas judeus e não encontrava apoio nas autoridades e no povo.

Depois de anexar a Tchecoslováquia - o que a Inglaterra aceitou como "razoável" - Hitler ocupou a Polônia e só então começou a crescer na Inglaterra, movida pela bravura de Winston Churchill, que por esta razão acabou eleito primeiro-ministro no lugar do traidor Chamberlain, a tese de que, com o fascismo não adianta negociar.

Com o terrorismo também não.

O detestável George Bush sabe disso.

O doce Barack Obama ainda não.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro marona, já te disse algo semelhante aqui antes, mas devo repetir.
Parabéns pela coragem e honestidade intelectual

"Se o objetivo de uma política externa é reduzir o risco de novas tragédias como aquela, então Bush é um vitorioso. Ou a minha antipatia por ele deve me impedir de admitir isto?"

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