terça-feira, 20 de maio de 2008

EUA: o roto contra a esfarrapada

Eis um bom artigo de Caio Blinder sobre as eleições americanas:

NOVA YORK- Hillary Clinton não tem chances de vencer as primárias democratas. Mais do que um milagre, ela espera um desastre ou um escândalo na trajetória de Barack Obama. Quem sabe algo mais explosivo do que o pastor Jeremiah Wright. Melhor ainda, uma pastora ou um travesti. Afinal, Barack Obama também é conhecido como um fenômeno.

Bem, vamos discutir o que sabemos e com mais seriedade. Hillary Clinton não tem chances, mas ainda está aí, atrapalhando um debate mais importante se Barack Obama tem condições de derrotar o republicano John McCain nas eleições presidenciais de novembro. Nos últimos meses, acossado pela infatigável ex-primeira dama e debilitado por feridas autoinflingidas (como a associação com o pastor), Obama tropeçou. É verdade que também mostrou que sabe enfrentar o tranco, o que ajuda explicar o desempenho acima das expectativas nas primárias de terça-feira (ganhou muito bem na Carolina do Norte e a exígua vitória de Hillary Clinton em Indiana foi um prêmio de consolação para ele).

Em qualquer análise eleitoral hoje em dia nos EUA não dá para escapar da praga demográfica. Então lá vai, O curso das primárias mostrou Obama cada vez mais dependente do apoio de negros, brancos afluentes e jovens eleitores. Ele precisarará superar estas barreiras até novembro. Já pelos convencionais critérios ideológicos, Hillary Clinton se reinventou como uma candidata tradicional e populista, mas no final das contas existe a percepção de que Obama é o mais esquerdista e, ao mesmo tempo, o mais elitista. Esta percepção dificultará o avanço dele junto a eleitores moderados e independentes e também o mantém distanciado de uma base democrata de eleitores de renda mais baixa e que também são socialmente conservadores.

Um outro obstáculo: grande parte do entusiasmo a respeito de Obama foi impulsionado por sua oposição à guerra do Iraque, mas o assunto que hoje mais mobiliza o eleitorado é a economia. É verdade que aqui McCain tampouco está em um terreno muito sólido, não apenas por seu apoio à guerra, mas pela percepção de que ele representa continuidade da política econômica do governo Bush, cujos pilares são os cortes dos impostos dos mais ricos e os gastos militares, em uma combinação que agrava o déficite orçamentário.

A favor de Obama há um fator mais imponderável. Ele não é conhecido à toa como um fenômeno político. Já mostrou algumas vezes como é capaz de superar as expectativas (e também de decepcionar). David Brooks, o influente e moderadamente conservador colunista do "New York Times", adverte que os republicanos irão se arrepender caso empreendam uma campanha no clássico formato esquerda x direita. Isto pode funcionar quando a "marca" republicana tem credibilidade. No final das contas, os dois Exércitos, comandados por Barack Obama e John McCain, vão feridos para o campo de batalha.

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