Uma das lições mais chocantes da tragédia do Katrina, em Nova Orleans, foi a constatação de que a miséria nem sempre estimula a solidariedade. Pode, ao contrário, impulsionar em suas vítimas os piores instintos humanos: o uso da força para obter uma garrafa dágua, a luta de vida ou morte por um colchonete, a covarde exploração do sofrimento por comerciantes sem escrúpulo, a selvageria dos saques em plena luz do dia.
Santa Catarina pode estar registrando lições semelhantes de destruição das boas qualidades humanas em nome do instinto visceral de sobrevivência. Esta semana, um pão francês custava R$ 4 nas padarias de Itajaí, cobrava-se o mesmo preço por uma garrafa de água mineral e a gasolina já havia atingido o preço de R$ 3 por litro. Os supermercados e lojas atingidos pela enchente foram roubados e os saqueadores não buscavam apenas alimentos, mas disputavam a tapa televisores e produtos eletrônicos.
Os jornais só relataram esta derrota da humanidade superficialmente. Talvez por compaixão com os leitores.
Um comentário:
Compaixão nada, Marona.O que acontece é que esta paralisia que vemos na imprensa é um fenômeno tipicamente político - a imagem do sul maravilha devastado não vai bem, pois demonstra a ineficiência institucional que só atribuímos às regiões longínquas como o Nordeste e a Amazônia. Ficamos estupefatos ao perceber que nossa ineficiência é dominante, não existem áreas melhores no País. A vida no Brasil é terrível e o abandono é generalizado sejam índios, negros, branquelas descendentes de europeus, ou o quem for. Ao lado disso, será uma tragédia quase sem registro, além das fotos meramente fatuais dos jornais.
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